55 anos e a tola ideia (publicado originalmente em 26/6/2021)
Há na praça, faz mais de 10 anos, documentário razoável sobre o jornalista Mário Filho (neste espaço, escrevi sobre em 2013). Em setembro a morte de Mário completará 55 anos.
Tecerei comentários acerca deste personagem que recentemente foi envolvido numa estapafúrdia, esdrúxula polêmica, promovida por um deputado estadual do RJ, que certamente não tinha mais o que fazer - em 2020, o nobre político esteve envolvido num escândalo de propina (sim, ele é do PT).
O tal, André Ceciliano, fez projeto de lei, aprovado pela Alerj, a trocar o nome do Maracanã: de Mário Filho para Edson Arantes do Nascimento, Pelé.
É óbvio, salta aos olhos, que Ceciliano desconhece profundamente a história do jornalista, irmão de Nelson Rodrigues. É óbvio também, que Pelé merece esta e outras homenagens que lhe sejam dadas em qualquer canto.
Porém, o caso é outro, que denota ausência de inteligência, no mínimo. Mário Filho foi, em seu tempo, o maior incentivador dos esportes e demais divertimentos.
Afirmar ser ele o maior jornalista esportivo que o Brasil teve é chover no molhado. Até os janistroques sabem (ou deveriam saber). Criou, por exemplo, o desfile competitivo das escolas de samba no Rio, os Jogos da Primavera e os Infantis, o Torneio Rio-São Paulo (que, aperfeiçoado, é o Campeonato Brasileiro atual).
O termo 'Fla-Flu' foi invenção sua, eternizada no clássico que começou '40 anos antes do nada', como escreveu Nelson. Pelo período em que vivemos hoje, no qual paira a ignorância suprema, até vil, não é de se espantar ou estranhar que esta proposta beira a ignomínia, patranha, e se faça carne por meio deste gesto do deputadinho citado.
Sobre Pelé, Mário discorreu no livro 'O Negro no Futebol Brasileiro', de 1947: 'Dondinho era preto. Preta dona Celeste, a vovó Ambrosina, tio Jorge, Zoca, Maria Lúcia.
Como se envergonhar da cor dos pais, da avó que lhe ensinara a rezar, do bom tio que pegava o ordenado e entregava-o à irmã a inteirar as despesas da casa, dos irmãos que protegia? A cor dele era igual. Tinha de ser preto. Se não fosse preto não seria Pelé.' Precisa mais o quê, caro André?