Os erros deles (publicado originalmente em 8/5/2021)
Nelson Rodrigues, numa das confissões publicadas na década de 1960 admitiu, apreensivo: 'Chegará o dia em que idiotas dominarão o mundo. Eles são muitos'. Você que me lê pode escolher o dia em que a profecia do dramaturgo 'se fez carne'.
Eu, por exemplo, desde há muito, tenho intolerância à chaga do politicamente correto. Nunca me cansarei de afirmar isto. Tenho dúvidas de quando essa sem-vergonhice se iniciou, porém sei de uma coisa: a praga veio, infelizmente, para ficar. Não sei por quanto tempo.
A 'turma do cancelamento' está com tudo e não está prosa, para nossa tristeza. Anos de trabalho dedicado nas universidades, professores no seu exercício predileto de infestar a mente dos pobres-coitados alunos de gramscismo, puseram em prática a teoria da Escola de Frankfurt de odiar 'tudo o que existe'.
O resultado está aí, nos mais variados setores da sociedade nos quais não podemos dar um pio fora da pieguice, ou seremos taxamos de xingamentos que, por Deus, nem queira saber. Como este espaço é dedicado ao cinema, deito minhas posições nisso. O nível cai.
Os erros não são meus: são deles. No caso, da Academia de Artes, que resolveu 'dar espaço' a 'minorias' e exigir cotas tão absurdas que até quem considera charmoso ser progressista ficou espantado. Em 1929 o melhor filme foi o espetacular 'Asas'.
Ano passado, o vencedor, 'Parasita', escancara o que há de pior no esquerdismo preconceituoso, hipócrita. 'Xingue-os do que és, acuse-os do que fazes': a velha máxima de Lênin aplica-se com sutileza. Em 2018, taxaram o 'Sr. Oscar' Rubens Ewald Filho (que morreu em 2019) de homofóbico só porque, durante a transmissão, chamou o rapaz transexual Daniela Vega de... rapaz!
Esse tipo de gente que apontou o dedo a Rubens é o mesmo, salvo exceções, que gritou 'fique em casa' na pandemia e foi se esbaldar em praias e nas festas com dezenas de pessoas. Jamais pensei que deixaria de acompanhar ferrenhamente o Oscar. O de 2021 nem vi.
Como escrevi, a culpa não é minha. A turma politicamente correta e progressista estraga o que toca e nivela tudo por baixo. Só tapo o meu nariz.