Torpe dilema (publicado originalmente em 27/2/2021)
'O Dilema das Redes' estreou na Netflix no começo do ano passado, mas só fez estardalhaço no fim de 2020, a partir mais ou menos de setembro, 'coincidindo' com as semanas que antecediam a eleição presidencial dos EUA e as municipais do Brasil.
Dirigido e roteirizado por Jeff Orlowski, o documentário, que tem encenações que exemplificam as teorias das entrevistas, aborda como os algoritmos de plataformas como Facebook, Twitter, Google, Instagram e outras redes sociais transformam pensamentos dos usuários por meio de anúncios de vídeos 'sugeridos', por exemplo.
Jeff gravou com ex-funcionários das empresas que, por obra dos céus, resolveram abrir as 'mentes perversas' e delatar ao público os grandes males criados por eles mesmos com as mais singelas e inocentes intensões. Capitalismo, seu feio!
Um deles confessa: 'Fui o responsável por bolar o botão de curtir no Facebook. A ideia era trazer positividade a quem usava. Hoje me assusto quando vejo crianças e adolescentes com depressão porque não tiveram fotos curtidas pelos amigos'. Que graça.
É óbvio: todo mundo sabe que é vigiado ao acessar alguma ferramenta dessas. Ninguém sai ileso. Porém, a partir do terço final do filme, o diretor joga o script a um lado torpe, sacana, e descamba à mera defesa de 'valores' progressistas.
Em determinado ponto de 'O Dilema das Redes', os entrevistados apontam que Trump e Bolsonaro foram eleitos porque os 'malvados algoritmos' influenciaram na violência e na vileza da maioria dos jovens e, portanto, os candidatos 'bonzinhos' (quer dizer, os da esquerda) foram simplesmente limados do pleito. (Será que é por isso que hoje vemos censura aos ditos direitistas nas redes sociais?)
Esses ex-empregados de certa forma ironizam as chamadas 'teorias da conspiração' e dizem que sossegadamente conseguiram enfiar no cérebro dos usuários mensagens cruéis e acirraram a competição entre eles.
Quando vemos que as redes sociais censuram e banem Trump por algo que ele escreva, mas nada faz quando um deputado federal ameaça de morte o presidente do Brasil ou jornalistas 'pedem' para que Trump e Bolsonaro se matem, sacamos qual é o objetivo. Trump já foi. E 2022 já está aí. Duração: 98 minutos. Cotação: regular.