Em março desse ano estreou, no catálogo do serviço de streaming Netflix, o longa-metragem O Poço. Dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, o filme espanhol retrata a vida em uma penitenciária, em formato vertical, que tem 333 compartimentos, tendo dois prisioneiros por cubículo. Sem ter direito a banho de sol ou qualquer tipo de interação fora da cela, os detentos são emocionalmente testados a cada vez que uma plataforma de comida desce pelo teto. A depender do andar que se encontra, por exemplo, o número 50, os prisioneiros esperarão os outros detentos, distribuídos nos 49 andares superiores, se alimentarem para, só daí, terem tempo para comerem, no tempo máximo de três minutos. Ou seja, quanto mais abaixo estiver, menos chances terá de se alimentar.
Goreng (Ivan Massagué), é o protagonista do enredo e tenta desempenhar um papel ao molde Quixotesco, mas logo descobre que a sobrevivência naquele inferno passa longe de ações altruístas, e seu companheiro de infortúnio, Trimagasi (Zorion Eugileor), mostra-lhe a realidade tão logo pôde. A cada 30 dias, os prisioneiros são mudados de cela e a escolha por andares mais abaixo ou mais acima é feita ao acaso. Assim, Goreng pode dormir no quinto e acordar no centésimo. Com inúmeras interações entre os presos e novas descobertas chocantes sobre o método vigente, o longa suscita críticas implícitas acerca da podridão do ser humano e o “modus operandi” ostentando pela sociedade moderna.
A narrativa proposta coloca em xeque os elementos presentes nos sistemas socioeconômicos atuais e como esses elementos extraem o que há de pior de cada um. Engana-se, aqueles que acham que o diretor se propõe apenas em afrontar o sistema capitalista, a violência exercida por Goreng, quando esse tem a ideia de subir na plataforma e distribuir os alimentos a cada andar, evidencia um traço típico dos regimes socialistas. Exatamente nesse momento do filme o protagonista começa a compreender que não há beneficiados naquela estrutura, nem mesmo aqueles encontrados no andar zero, pois, ao passar do tempo, as posições se modificam e esses mesmos figurarão em andares inferiores.
Como convencer os detentos acima a não comerem tanto e deixarem comida para os que estão mais abaixo? Está aí, talvez, o dilema do enredo. É o confronto contínuo entre o egoísmo e o medo de não existir — impulsionando os personagens a agirem de forma desordenada e irracional. Em vez de pensarem como enfrentar aquele sistema cruel, de forma organizada, pois, na plataforma, há comida suficiente para todos os presos, eles se guiam por instintos primitivos e enxergam os outros como inimigos a serem abatidos. Enquanto os confrontos acontecem, fica claro a busca encapada pelo diretor em destacar os pontos mais sórdidos daqueles personagens, podendo ser manifestados ou não, a depender da posição os quais ocupam no modelo.
Sim, o filme O Poço é uma excelente película que dá um soco no estômago de quem assiste. Bem longe de ser só mais um drama de terror, com cenas brutais e arrebatadora, mas sim um convite sombrio para refletirmos nossa posição no jogo da vida. O quão, de fato, verdadeiros somos, fechados em nossos valores, a depender das condições encontradas? Por ter um final inconclusivo, está aí a sacada levando-nos a um comparativo entre realidade e projeção, pois, nem a primeira e tampouco a segunda, representam, ao certo, um estágio concreto do que outro é. Com o sentimento de angústia pairando do início ao fim, o telespectador precisará, primeiramente, desconstruir o conceito de certo e errado, para só depois mergulhar no mundo inteligível e obscuro apresentado pelo longa. Ao fim, terá você a oportunidade de ressignificar suas verdades e suas concepções.
Goreng (Ivan Massagué), é o protagonista do enredo e tenta desempenhar um papel ao molde Quixotesco, mas logo descobre que a sobrevivência naquele inferno passa longe de ações altruístas, e seu companheiro de infortúnio, Trimagasi (Zorion Eugileor), mostra-lhe a realidade tão logo pôde. A cada 30 dias, os prisioneiros são mudados de cela e a escolha por andares mais abaixo ou mais acima é feita ao acaso. Assim, Goreng pode dormir no quinto e acordar no centésimo. Com inúmeras interações entre os presos e novas descobertas chocantes sobre o método vigente, o longa suscita críticas implícitas acerca da podridão do ser humano e o “modus operandi” ostentando pela sociedade moderna.
A narrativa proposta coloca em xeque os elementos presentes nos sistemas socioeconômicos atuais e como esses elementos extraem o que há de pior de cada um. Engana-se, aqueles que acham que o diretor se propõe apenas em afrontar o sistema capitalista, a violência exercida por Goreng, quando esse tem a ideia de subir na plataforma e distribuir os alimentos a cada andar, evidencia um traço típico dos regimes socialistas. Exatamente nesse momento do filme o protagonista começa a compreender que não há beneficiados naquela estrutura, nem mesmo aqueles encontrados no andar zero, pois, ao passar do tempo, as posições se modificam e esses mesmos figurarão em andares inferiores.
Como convencer os detentos acima a não comerem tanto e deixarem comida para os que estão mais abaixo? Está aí, talvez, o dilema do enredo. É o confronto contínuo entre o egoísmo e o medo de não existir — impulsionando os personagens a agirem de forma desordenada e irracional. Em vez de pensarem como enfrentar aquele sistema cruel, de forma organizada, pois, na plataforma, há comida suficiente para todos os presos, eles se guiam por instintos primitivos e enxergam os outros como inimigos a serem abatidos. Enquanto os confrontos acontecem, fica claro a busca encapada pelo diretor em destacar os pontos mais sórdidos daqueles personagens, podendo ser manifestados ou não, a depender da posição os quais ocupam no modelo.
Sim, o filme O Poço é uma excelente película que dá um soco no estômago de quem assiste. Bem longe de ser só mais um drama de terror, com cenas brutais e arrebatadora, mas sim um convite sombrio para refletirmos nossa posição no jogo da vida. O quão, de fato, verdadeiros somos, fechados em nossos valores, a depender das condições encontradas? Por ter um final inconclusivo, está aí a sacada levando-nos a um comparativo entre realidade e projeção, pois, nem a primeira e tampouco a segunda, representam, ao certo, um estágio concreto do que outro é. Com o sentimento de angústia pairando do início ao fim, o telespectador precisará, primeiramente, desconstruir o conceito de certo e errado, para só depois mergulhar no mundo inteligível e obscuro apresentado pelo longa. Ao fim, terá você a oportunidade de ressignificar suas verdades e suas concepções.