SILENT HILL (2006) dir. Christophe Gans
Talvez a tortura maior, entre as diversas apresentadas nesse longa, seja assisti-lo até o final sem, das duas uma, dormir ou irritar-se com a péssima apresentação de sua trama, e com os incalculáveis furos e decisões de roteiro questionáveis.
Deixemos claro primariamente que, a ambientação, maquiagem e o design de produção são maravilhosos e, ao que me contam, extremamente fieis à série de jogos na qual o filme se baseia. Bonita também é a fotografia, discreta porém efetiva que exibe alguns match cuts (ou raccords, aos não habituados com o termo sugiro que pesquisem, pois não me sinto apto a explicá-lo) muito sensíveis e bem-compostos. Mas então ...
A narrativa é tipicamente kafkiana. Uma mãe preocupada com os episódios de sonambulismo da filha decide levá-la a Sillent Hill, cidade cujo nome a menina repete incessantemente durante tais acessos. Deparam-se com uma policial no caminho, fogem da abordagem e se acidentam quando um vulto surge na frente do carro e obriga-as a desviar. O pai, que era contrário a ideia, vai procurá-las porém sem sucesso. Kafikana pois, os personagens se encontram em uma situação onde: não sabem como entraram, não sabem como sair e, a partir de então a tratam como cotidiana, apesar do absurdo inerente.
O filme samba entre o terror virulento e gore (parte que efetivamente entrega momentos de terror genuíno, sinistro, como nas cena do banheiro, e na cena com o monstro Pyramid Head) e o thriller investigativo, que nem os fãs mais ardorosos do filme dedicam-se a defender. A inconstância tonal aqui é o principal problema. A película ainda usa de um artifício narrativo barato pra fazer a trama andar: "minha filha esta perdida e preciso vagar por essa cidade infernal para acha-lá, mesmo que toda vez que eu chegue perto dela, ela saia correndo" isso é basal, é primário; Sim, faz sentido para a mãe, mas é tão, tão manipulativo que causa mais raiva do que padecimento pela personagem principal Rose da Silva.
Acho positivo que o filme tenha, em sua galeria de personagens principais, majoritariamente mulheres, e mulheres fortes, determinadas, porém mal desenvolvidas em geral, flertando ocasionalmente com a canastrice, como é o caso da principal vilã (dentre os seres humanos, evidente) Christabella.
A trama se desenvolve arrastada, parecendo tentar construir uma tensão que nunca vem, e que deságua em uma série de furos de roteiro e passagens mal explicadas em tela que mais confundem do que elucidam o espectador. Vejam bem, não sou a favor de tramas super mastigadas e que subestimam nossa capacidade de juntar as peças (lembrem-se disso até a próxima frase), mas uma narrativa deve ser bem construída, tem que deixar pistas e, se o objetivo é criar uma interpretação aberta, deve conduzir o espectador a tirar as próprias conclusões, coisa que essa não faz. (Lembraram?) Ao contrário, o roteiro tenta mastigar e explicar tudo por meio de diálogos expositivos, todos em uma cena em específico; cena esta onde o antagonista do filme, o mal encarnado, explica para Rose e conseqüentemente para nós tudo o que tinha sido mal explicado até então; como um aluno que não presta atenção em nenhuma aula, e tenta aprender tudo um dia antes da prova lendo o resumo de um amigo. A cena torna-se ainda mais sofrível quando a fotografia tenta imitar uma película antiga e desgastada (quebrando toda a imersão), sem nenhum motivo aparente a não ser o estilístico, que por si só é incalculavelmente brega.
O final é aberto e, surpreendentemente poético, tal qual adornar uma papinha de bebê com ovas de caviar.
Não, nunca joguei os jogos da franquia mas isso não deveria ser um pré-requisito para gostar ou não do filme, visto que essa é uma obra independente e que deve ser apreciada dessa forma. O potencial é incrível, algo verdadeiramente maravilhoso poderia ser concebido, mas não foi.