Ensaio à vida (publicado originalmente em 28/3/2020)
O poeta Paulo Bomfim costumava dizer que não era saudosista, mas um homem de bom gosto. Antônio Abujamra perguntava aos seus convidados no verdadeiro 'Provocações', da TV Cultura: 'Você chora diante da beleza?'.
Fiz essa introdução para apresentar 'Porque a Beleza Importa?', documentário produzido pela BBC de Londres em 2009 com a finalidade de explorar os pensamentos do filósofo e escritor conservador Roger Scruton, recentemente falecido.
Ser a mesma pessoa após assisti-lo é impossível, já adianto. Toda aquela maneira de encarar ditas 'obras de arte' (quadros, músicas, filmes, livros, esculturas, a própria arquitetura) muda de maneira radical.
Ou senão, você pode fechar os olhos e deixar que a onda do Marxismo Cultural te leve embora. Scruton conversa com artistas plásticos de um lado e do outro do movimento. Cita Platão sobre a beleza unida ao sagrado, e compara teorias.
Seu principal contraponto é Marcel Duchamp, escultor que sacudiu o setor cultural ao exibir um urinol, em 1917, com assinatura falsa. 'Estamos diante de uma peça que pode ser obra de arte?', pergunta Scruton. A resposta: claro que não.
Qual a razão de as pessoas encararem como uma maravilha? É a pergunta que vale um milhão de dólares. O que se costumava chamar de belo foi desconstruído ao longo do tempo, diz o filósofo. Mas 'Porque a Beleza Importa?' é mais profundo do que isso. Vai além.
Se você leu Olavo de Carvalho e conhece a teoria da Dialética Negativa e a Escola de Frankfurt sabe a que me refiro. A tal Escola se inspirou em gente como Duchamp e outros. Scruton explica como diferenciar o bonito do útil e dá como exemplo a arquitetura.
De forma didática e elegante, nos mostra como tudo foi destruído com o objetivo de 'salvar o planeta da beleza, afinal o mundo não é cor-de-rosa'.
Dou uma sugestão de exercício prático: depois de ver o documentário, passeie pela cidade e olhe em volta a selva de pedras, prédios destruídos (o esqueleto do novo Fórum é o ponto nevrálgico), e procure alguma construção de outrora ainda de pé.
Será que vamos achar? E aposto que você, leitor, terá muita vontade de ler os livros de Scruton ao fim da fita, que está na íntegra no Youtube. E imediatamente quererá revê-la. Duração: 59 minutos. Cotação: excelente.