Henfil em doc (publicado originalmente em 30/11/2019)

Henrique de Souza Filho foi citado na icônica música 'O Bêbado e o Equilibrista', composta por Aldir Blanc e João Bosco e eternizada na voz de Elis Regina.

O trecho 'Fazia irreverências mil / Pra noite do Brasil, meu Brasil / Que sonha com a volta do irmão do Henfil /Com tanta gente que partiu num rabo-de-foguete'. Hen (Henrique) fil (Filho), para quem viveu a política das décadas de 1960-70-80 foi um marco de rebeldia, crítica e acidez em relação ao regime militar vigente.

Henfil, por exemplo, nunca foi às urnas escolher o presidente do Brasil. Tinha 16 anos em 1960 (vitória de Jânio), morreu aos 43 anos em janeiro de 1988 – 32 dias antes do 44º aniversário e quase 2 anos antes da volta da eleição direta à presidência, em 15 de novembro de 1989 (vitória de Collor).

Há exatamente 1 ano, em dezembro de 18, foi lançado, enfim, o documentário sobre o desenhista, dirigido por Ângela Zoé. É bela homenagem ao artista criador de tipos como Fradinho, Cabôco Mamadô, Graúna, Ubaldo: O Paranoico.

Além disso, a expressão 'Diretas Já' foi ideia dele, informação que a fita faz questão de esclarecer. Ângela narra toda a trajetória de Henfil, e a sua preocupação com as cucarachas tupiniquins –os brasileiros que babavam ao se referir a tudo o que era dos EUA e desprezavam as nossas 'brasilidades', uma espécie de leitura nova ao 'Complexo de Vira-Latas' de Nelson Rodrigues.

A diretora também nos brinda com os últimos resquícios de sanidade do jornalista Sérgio Cabral (pai do político preso) – as entrevistas foram feitas em 2016, pouco antes de Cabral começar a apresentar os sintomas do Mal de Alzheimer.

'Tanga: Deu no New York Times?' (1987), o longa-metragem produzido pelo cartunista para sacanear tudo e todos, com inúmeras participações especiais (Chico Anysio, Jaguar, Hélio Pelegrino, Tom Jobim), é citado na obra como o crepúsculo da estrada de Henrique Filho.

Vítima de hemofilia como os seus dois irmãos, o ativista social Herbert de Sousa, o Betinho (1935-97) e o cantor e compositor Chico Mário (1948-88; morreu 2 meses depois de Henfil), não pode ver o país renascer.

Hoje esta nova geração de 'estudantes de comunicação' (entre aspas mesmo) nem sabe quem ele é. Pena. Duração: 75 min. Cotação: ótimo.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 26/11/2019
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