Sala de espera (publicado originalmente em 16/11/2019)
É o que sempre costumo escrever aqui: das ideias mais singelas nascem os trabalhos mais impactantes e talentosos. Menos é mais. Na Netflix está disponível 'Toc Toc', obra espanhola de 2017 sobre o grupo de pessoas com transtornos obsessivos compulsivos.
O cenário é a sala de espera do médico, o doutor Palomero, que está atrasado. Baseado numa peça de teatro, o longa é basicamente um filme de diretor. Vicente Villanueva comanda a trupe, faz da trama uma das melhores comédias da década.
O elenco dá vida ao script e consagra os dramas de cada um de nós. Afinal, de perto, como disse Caetano, ninguém é normal.
Lili repete frases; Ana Maria faz o sinal da cruz a todo o momento, sempre pensa que deixou algo ligado ou aberto em casa; Emílio calcula qualquer coisa; Blanca tem mania de limpeza; Otto quer tudo alinhado e simétrico à volta e não pisa em listras; e Federico diz obscenidades às mulheres, sem qualquer tipo de censura; pra completar, Tiffany, a secretária-recepcionista do consultório, tem o transtorno bipolar.
A graça está na elegância com que Vicente Villanueva aborda o tema. Os atores, impecáveis, dão show – principalmente Oscar Martinez, o veterano, na pele de Federico. Na terapia de grupo, cada um deles passa por provações para tentar se superar em seus traumas.
Em seu 3º longa-metragem, o diretor se fixa no riso, artes das mais complicadas de lidar porque qualquer deslize pode ser fatal. A aceitação do espectador é imediata e os personagens têm carisma.
Os atores transmitem a segurança, a veracidade – tarefa também angustiante. Nuria Herrero (Lili), com sua doçura e pureza, é outro ponto estrelado de 'Toc Toc'. A fita em seu ano de estreia passou batido por aqui e foi recuperada pela Netflix.
Com seu desfecho até um tanto previsível, sem deixar de ser surpreendente de certa maneira, 'Toc Toc' esbanja simpatia e é um divertimento garantido a todos. Duração: 91 minutos. Cotação: ótimo.