Coringa e a droga da vida (publicado originalmente em 9/11/2019)
Joaquin Phoenix é o 5º ator a viver o inimigo do Batman. Cesar Romero (entre 1966 e 68, no seriado), Jack Nicholson (1989), Heath Ledger (2008) e Jared Leto (2016) foram os outros, baseados na criação de Bob Kane, que por sua vez se inspirou em Gwynplaine, personagem interpretado por Conrad Veidt em 'O Homem que Ri' (1928), filme fabuloso e ousado para a época.
J.Phoenix é o vilão em seu próprio longa, que estreou há um mês e vem gerando desde então os mais diversos comentários. É um estudo de caso de psicologia, pois encontramos Arthur Fleck, aspirante a comediante, se entretendo com seus maus bocados acontecimentos do cotidiano: cuida da mãe doente, é maltratado pelos transeuntes nas ruas, e possui transtornos de memória (ou será delírio?).
Como uma pessoa se torna beligerante, com as frustrações e decepções 'naturais', e pode se manter são no mundo que te exige a cada segundo um sorriso, mesmo que falso? Phoenix se impõe em cena.
O diretor Todd Phillips (dos três 'Se beber não Case') mostra que sabe entregar um bom produto. Com algumas sequências violentas, o que gerou uns chiliques aqui e ali, 'Coringa' faz o público se lembrar, por exemplo, de 'O Rei da Comédia' (1982), e, o mais citado, 'Taxi Driver' (1976), ambos com Robert DeNiro (está em 'Coringa') e dirigidos por Martin Scorsese.
A fita de 2019 é menos barulhenta que estes 2 filmes, porém serve para provocar discussões sobre a atual gratuidade de perversidade e a antipatia. O jogo de Phillips de tentar driblar realidade de ficção durante ações de Fleck joga com o velho clichê de ser afoito quando a hora é inadequada.
A tal badalação que 'Coringa' tem sido alvo é justa, mas é necessário trabalhar a emoção com calma. O filme deve render algumas indicações ao Oscar.
Tomara que até a festa a história não se perca nas apostas e mergulhe no ostracismo. E pode ocorrer... A música 'That's Life' traduz bem esta trama. Duração: 122 minutos. Cotação: bom.