Vertigens (publicado originalmente em 5/10/2019)
O grande pecado de 'Free Solo', documentário que ganhou o Oscar em 2019, é perder um determinado tempo com a relação entre o alpinista Alex e a sua namorada Sanni.
O diretor Jimmy Chin optou por tentar compreender a obsessão do protagonista pelas subidas sem cordas ou qualquer equipamento de segurança por meio do 'amor' à garota loira de olhos azuis.
Outros pontos da personalidade dele, claro, estão expostos, como a dificuldade de relacionamento familiar ("Nunca nos abraçávamos e falar 'eu te amo', então, era impossível" – ele perdeu o pai na adolescência) e a timidez na escola.
Mas desde petiz a paixão de Alex foi a altura. E o perigo à flor da pele. Além de Sanni, 'Free Solo' nos brinda com todas as tentativas do esportista para escalar El Capitan, uma das mais famosas rochas do mundo, com mais de um quilômetro de altura, na Califórnia (EUA).
O filme transmite sensações sérias de vertigens, pois as câmeras que captam as subidas de Alex estão em pontos inacreditáveis. Percebe-se que se acontecer qualquer deslize, o alpinista não terá segunda chance.
E tal risco exige boa preparação física e mental. A mãe dele diz: 'Eu jamais fico sabendo quando ele fará as subidas, porque se souber vou ficar muito nervosa. Prefiro assim'.
Chin se preocupa em abastecer o espectador com algumas informações acerca do cotidiano de Alex – como prepara suas comidas, o comportamento por vezes hostil, as demoras em pegar no sono, as reflexões sobre a morte etc.
Aliás, 'Free Solo' lembra dos alpinistas que morreram ao praticar a modalidade. A primeira tentativa de Alex em escalar 'El Capitan' é frustrada. Logo no início ele desiste por ter tido sensação ruim.
Decepção à vista? A proeza não é somente do protagonista, mas da equipe de filmagem. A aflição é de todos. Em alguns momentos fechei os olhos por não aguentar as imagens espetaculares, mas aterradoras, de Alex... Produção do canal National Geographic. Duração: 100 minutos. Cotação: bom.