Velhas ideias (publicado originalmente em 14/9/2019)
Elisa Salles viajou à China em 1968 com alguns amigos no oferecimento de uma revista. País de Mao, o comunista, estava às voltas da chamada 'revolução cultural'. Duas décadas depois, 'ela perdeu aquela alegria da vida', diz o filho, João Moreira Salles, diretor de obras-primas do documentário– 'Entreatos' (2004) e 'Santiago' (2007).
Por acaso, segundo ele, achou as imagens amadoras desta viagem, deveras emocionado, resolveu garimpar mais em seu arquivo. Juntou outros rolos que estavam às traças, sobre o movimento do 'Maio de 68' francês e a de Praga, na antiga Tchecoslováquia, um ano antes.
Tudo isso resultou em 'No Intenso Agora', lançado no fim de 2017, aclamado pela crítica. Criador da piauí, assim no diminutivo mesmo, João dirigiu, roteirizou e produziu o documentário, que tem algo de estranho...
Antes, em 'Santiago', o irmão Walter ocupou-se dos offs, voz no fundo do filme. Em 'No Intenso Agora' João tomou essa rédea. E não encaixa. A voz fina, de tom didático, querendo introduzir ao público as ideias destas chamadas 'revoluções', parece separada do projeto.
Entende-se o tom do documentário, e as inspirações de sua geração ao evento histórico. Porém, o desejo de juntar os 3 países e conectá-los com a passagem da mãe pela China não dá liga.
Algo está fora do lugar e o filme se torna apto a apenas servir como instrução a alunos de colegial, explorando fatos europeus já citados. Eu até concordo que determinadas sequencias resgatadas por Salles são magníficas, como as discussões de Daniel Bendit, o líder dos estudantes na França.
Param aí. O cineasta brasileiro, ainda bem, teve o cuidado de deixar às nossas vistas que as teorias e as ideias do movimento esquerdista deu em nada, mas D. Bendit foi eleito deputado, até hoje respira fama adquirida na época.
Salles catou, portanto, algumas pitadas de velhas ideias, colocou-as no computador, traduziu determinados filmes e nos entregou uma obra que não está à sua altura. Duração: 127 minutos. Cotação: regular.