O romântico Hitchcock (publicado originalmente em 17/8/2019)
Paulo Francis fazia trocadilho arrebatador quando ia falar de um de seus filmes prediletos: 'Rebecca: A Mulher Inesquecível' (1940). Ele chamava a obra de Hitchcock de 'Rescível: A Mulher Inesquebeca'.
Atrás das câmeras, confusão, inveja e a boa armação do Mestre do Suspense... O galã Laurence Olivier queria porque queria que sua namorada, Vivien Leigh, fosse a escolhida ao papel de sua esposa tímida e deslocada pelos empregados.
O diretor optou por Joan Fontaine, 22 anos na época das filmagens. A retaliação veio: o ator ignorava-a, sem esconder a frieza e a falta de educação. Joan sentiu o baque.
Na tela, percebe-se claramente que ela está incomodada com algo, e não apenas simplesmente porque seu personagem exigia tal comportamento – a moça pobre em confronto com a mansão Maderlaine, tendo que dar ordens e sentindo de perto da saudade apertada do marido Maxim (Olivier) pela finada esposa Rebecca, 'mulher perfeita, refinada, de extremo bom gosto em tudo o que fazia', dizem os funcionários.
Hitchcock notou a azia de Fontaine em relação a L. Olivier e ordenou aos demais atores e membros de sua trupe a, propositalmente, também desprezarem a 'triste' atriz. Não à toa, a teoria hitchcockiana de tratar os atores 'como gado' se aplicava na veia, sem piedade, neste caso.
Tanta falta de escrúpulo teve resultado: ela foi indicada ao Oscar, mas não levou. Na edição seguinte, por outra obra de Hitchcock, a atriz conquistou a estatueta (desta vez sem penar).
O cineasta era um obsessivo. Nutria paixões muito platônicas por determinadas companheiras de trabalho (Grace Kelly e Tippi Hedren que o digam). Era perfeccionista nos takes e às vezes humilhava as mulheres em sua volta. Revi 'Rebecca' por estes dias e percebi que nunca havia escrito sobre a fita aqui.
Um dos 5 grandes trabalhos de direção de Hitchcock, a película faz por merecer até hoje todos os elogios escritos e falados. Duração: 133 minutos. Cotação: ótimo.