Cine Culturix 2

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E eis que junho propicia a segunda edição desta iniciativa que se compraz em discorrer de modo agreste e não menos superficial acerca do cenário áudio visual apreendido nos últimos tempos.

Para início de conversa, não é improvável supor que a representação visual da ética na nossa cultura poderia ser a de um bando de neandertais pululando semi nus em torno de uma fogueira, tendo nas mãos lanças encimadas por cabeças de porco. Ética política, econômica, social, estatal, etc.

Em sendo assim, fica difícil para o brasileiro mediano (meu caso) compreender os parâmetros norteadores do seriado “Billions”, cuja sinopse oficial atesta: Um procurador federal ambicioso inicia uma investigação implacável contra um bilionário que não joga para perder. Esses dois pólos de comando são vividos, respectivamente, pelo atores Paul Giamatti e Damian Lewis. É outra praia. Bobagem gastar mais verbo do que isso. Basta lembrar, no oceano de baixarias, o ex-ministro Geddel Vieira Lima e os 50 milhões cash no apê sabe-se lá de quem? Entonces…

“Cafarnaum", escrito e dirigido por Nadine Labaki, colega, essa moça realizou um feito formidável. De uma só tacada deu uma bofetada eu não diria numa cidade ou país, mas em toda uma cultura. Dá vontade de perguntar se o protagonista Zain Al Rafeea foi conscientemente construído a partir do parâmetro de criança cristal, índigo, ou correlato até mais avançado. Concorreu ao Oscar desse ano na categoria Melhor Filme Estrangeiro.

A título de prosa corriqueira, vamos aos meandros de como essa comunicação tramitou. Dia 1: o amigo Raffert, aqui do RL, mencionou a obra no box de comentário. Dia 2: o filme cai no meu colo. Na região da Paulista existe uma banca especializada nesse tipo de trabalho. Chego lá e zás - está no topo da pilha. Dia 2, noite - assisto e fico flaberggasted (espantado), por sinal, essa palavra tem o som de uma coruja espirrando. Por sinal 2, aprendi essa palavra com o Raffert. Dia 3, aniversário de 30 anos da filha de uma amiga mui querida. Cerca de 30 convivas, 3 cineastas diplomados, um com documentário concorrendo em festival, fiz uma diligente pesquisa. Resultado: absolutamente ninguém jamais sequer ouvira falar em Nadine Labaki e “Cafarnaum”. Curioso isso, não? Galerinha plugada dia e noite em Face, IPhone, Twiter, Instagram e o diacho a 4. E nóis aqui, gol do RL.

O feito dos criadores do “Blllions”, a saber, Brian Koppelman, David Levien, Andrew Ross Sorkin, foi criar o universo dos empoderados onde, que eu saiba, a arte cinematográfica ainda não havia construído um poderoso sem cadáveres e ou resoluções toscas. Não há jagunços ali, muito menos coronéis surrupiando o pão dos famintos. O personagem de Paul Giamatti, o promotor, seria o mais próximo da vileza, ao passo que o bilionário, vivido por Damian Lewis, em águas brasileiras e por comparação seria decerto canonizado.

Acontece em junho (o nome desse mês vem da deusa do casamento, Juno) o curso "Robert Bresson: O caminho do Cinematógrafo”, aff, com todo respeito, topo fazer um micro intensivo sobre Thomas McCarthy*, Bennett Miller**, ou até Peter Farrelly, não que a obra dele seja um ícone, até pelo contrário, mas é o maestro do "Green Book”, Oscar de Melhor Filme esse ano, merecido, cinema fluído, vistoso, bem arquitetado, pega pela mão e te leva embora. Cinema tem de ser isso: sucção. Viggo Mortensen impecável, dá gosto ver esse cara em cena, aqui contracenando com Mahershala Ali, ambos pilares do trabalho.

No início de 2019 teve a estréia de outro seriado, "True Detective 3", onde o Mahershala chameja em 3 papéis, cuidadosa escrita de Nic Pizzolatto no melhor estilo "cinema negro” como diria um brother uruguaio, (Film noir), onde nada é o que parece e o desfecho lembra a célebre frase de Tobias, (ex-Master dos Shaumbra): O futuro é o passado curado.

Poderia Me Perdoar? Por escrever tantas bobagens… "Can You Ever Forgive Me?”, dirigido por Marielle Heller, a atriz protagonista Melissa McCarthy concorreu na divisão Melhor Atriz, ela encarna certa passagem da vida de Leonore Carol "Lee" Israel, biógrafa, em 1991 estava sem um tostão, bebia como um gambá, gostava de moças, era mais amarga do que fel sintético e de repente, para fazer uns trocados, ela começa a falsificar cartas de famosos, tipo Noel Coward, Katharine Hepburn e outros. Lee Israel já contava com cinquenta e tantos quando empreendeu essa jornada, as cartas foram um sucesso até que pessoas íntimas dos falecidos puseram em xeque alguns conteúdos e abriu-se o alçapão - FBI e uma juíza magnânima providenciaram a ocasião para a autora escrever o livro homônimo, colocado nas alturas pelos críticos do The New York Times em 2008. Lee subiu em 2014. Só para constar, a diretora Marielle Heller é biscoito fino.

Encerramos com frase de um ilustre pensador contemporâneo:
"Se você não tem a capacidade de acreditar cem por cento no romance que está lendo ou no filme a que está assistindo, trate de adquiri-la. Os imbecis a desprezam, mas ela é a base de todo aprendizado”.



* (Spotlight)

** (Capote)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 04/06/2019
Reeditado em 20/02/2020
Código do texto: T6664782
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