Carmen e as bananas (publicado originalmente em 11/5/2019)
Um documentário que pouca gente viu, e serve como dica nestes 110 anos de Carmen Miranda, é a fita de 1995 'Banana is my Business', de Helena Soldberg.
Trabalho caprichado e cheio de entrevistas com as pessoas que estavam coladas na Pequena Notável tanto no Brasil como nos EUA – Cesar Romero, a irmã Aurora, Mario Cunha (o 1º namorado), Alice Feye e Sylval Silva.
De forma linear, é narrada toda a trajetória da cantora e atriz, desde os primeiros passos na loja de chapéus até a morte em 1955, após anos de depressão e angústia, que a levou a ingerir remédios e bebidas alcoólicas.
Em 1995, o Brasil e o mundo lembraram os 40 anos de sua partida e Helena traz à baila recordações de sua própria infância. 'Minha mãe não me deixou ir ao enterro de Carmen... Queria vê-la pessoalmente pelo menos uma vez na vida. Mas minha mãe desconfiou que teria muito tumulto nas ruas e me impediu', diz Helena logo no início.
Para resumir, 'Banana is my Business' relata a estrada pela qual a intérprete de 'Taí' andou e correu em seus 26 anos de carreira. A quem leu 'Carmen', biografia definitiva de Ruy Castro, esta fita é o complemento às informações, ainda que tenha sido lançada uma década antes.
E tal qual as páginas, a obra cinematográfica se refere a Sebastian, o marido da artista, como o vilão. 'Eu sempre fui contra o casamento. A gente via que não daria certo. Mas a Carmen era muito carente e não teve jeito'.
A frase é de Aurora, e o impacto é fulminante. Como o desejo de ser mãe ficou bem distante das possibilidades, Carmen, a que 'voltou americanizada' (o triunfo dos ignorantes fez com que a Pequena Notável tivesse depressão por anos), bateu de frente com o obstáculo inabalável: a fraqueza.
Helena quis e concretiza o objetivo de colocar a cantora no topo do pódio, lugar de onde ela jamais saiu, mas era empurrada pra sair. Recomendo. * P. S. vaidoso: esta é a coluna de número 800. Duração: 95 minutos. Cotação: ótimo.