Uma guerra fria (publicado originalmente em 4/5/2019)
O diretor Pawel Pawlikowski, de forma merecida, colocou seu 'Guerra Fria' (2018) em 3 categorias do Oscar: ele mesmo foi indicado a Diretor, e, além desta, Filme Estrangeiro e Fotografia (Lukasz Zal).
O preto e branco das imagens nos trazem com majestosa categoria o ambiente colérico e sujo da Europa do pós-guerra. Os países todos destroçados, aos remendos, recebem a história dramática e sonhadora da dupla Zula (Joanna Kulig) e Wictor (Tomasz Kot), 2 personagens cujas tramas são incompatíveis e tortas.
Para início de conversa, é bem melhor do que 'Roma', furacão de Cuarón que arrebatou muitos espectadores mundo afora, incluindo este que vos escreve. Mas 'Guerra Fria' supera.
O roteiro abrange 15 anos (de 1949 a 64) da estrada do casal. Ele, professor de música e maestro. Ela, aspirante a cantora e revoltada com a vida. Pawlikowski consegue nos mostrar que 'apenas' amar não basta.
É preciso alta dose de esperança, consciência de que tudo pode escapar pelas mãos, como água. Pode-se interpretar o título da fita como uma relação que tende a ser estragada por causa mais de Zula.
De temperamento explosivo, mas de uma beleza fora do comum, a cantora traz transtornos aos dias do maestro. 'Guerra Fria' é uma obra completa, enxuta, objetiva e densa.
Em recente entrevista, tanto Pawlikowski como L. Zal informaram que tentaram realizar a fita em cores, mas depois perceberam (ainda bem) que aquele ambiente onde se passa a história é digno de um 'preto e branco inatingível', simbolizando a época na qual a fome, o desespero e a desilusão imperavam entre todos.
O romance de corrida de obstáculos de Zula e Wictor é o chamariz à catástrofe e à tragédia. Nelson Rodrigues ficaria admirado se assistisse. O retrato 4x3 da filmagem incute ao espectador harmonia e imponência que o longa-metragem merece.
A atriz Joanna Kulig faz jus a mais trabalhos grandiosos como este. Esteve em 'Ida' (2013), do mesmo diretor. Duração: 89 minutos. Cotação: ótimo.