Matrix e o mito da caverna de Platão

Texto de Victor Da Silva Pinheiro

Matrix e o mito da caverna de Platão

Morfeu, Trinity e Neo fazem parte de uma trindade. Onde Morfeu é o mestre, o eu espiritual, o equilíbrio espiritual; Trinity é a psique, o nosso eu humano, o equilíbrio mental e emocional, a artista por natureza, onde ela demonstra essa arte na sua luta; e Neo é o discípulo, o equilíbrio físico e energético, o guerreiro, o nosso eu animal. E como todo discípulo em potencial, que futuramente virá a ser mestre, já tem 7 discípulos para aprender com eles e ele, Neo, os ensinar, são os 7 tripulantes da nave além de Morfeu: Apoc, Switch, Dozer, Tank, Mouse, Cypher e Trinity. Morfeu, Trinity e Neo são uno e trino ao mesmo tempo, próprio das trindades das diversas religiões. Não é só o cristianismo que tem trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), na Grécia Antiga a trindade era: Zeus, Poseidon e Hades, que simbolizam O Nous, Psique e Soma. No Antigo Egito era: Osíris, Ísis e Hórus. No Hinduísmo é: Brahma, Vishnu e Shiva. E assim vai...

Platão escreveu o mito da caverna no capítulo VII (7) da sua Magnum opus "A República". E o filme Matrix é a versão pop desse mito. Segundo esse mito, toda a humanidade nasceu e cresceu acorrentada numa caverna em cadeiras enfileiradas voltadas para um paredão onde nesse paredão passam as sombras destes acorrentados que são projetadas por causa da luz da fogueira que se localiza por trás dessa fileira de cadeiras. Como num cinema moderno. Entre a fogueira e a humanidade passam alguns animais e pessoas carregando objetos, e o som desses animais e pessoas ecoam até chegar aos ouvidos dos acorrentados. E as sombras desses também aparecem no paredão. No alto, vivem os amos da caverna, como se estivessem em camarotes, olhando a situação por cima, tirando algum proveito da situação e esses são os responsáveis por manter essas pessoas acorrentadas. Os acorrentados de tempos em tempos escolhem as sombras mais diferenciadas para serem líderes deles. Lá fora da caverna tem alguns sábios, a natureza e o sol. E só uma pequena brecha de luz solar penetra na caverna. A saída da caverna fica no alto.

Só que um dos acorrentados se sente incomodado com a situação. Neo é esse acorrentado, que nasceu na Matrix. É o idealista, onde Morfeu, seu mestre, apresenta a filosofia, que vem para proteger esse ideal. A caverna, a Matrix, é o mundo da matéria em que vivemos acorrentados no materialismo, e aquele que começa a se remexer da cadeira é o idealista. Então, como Morfeu diz mais ou menos assim a Neo no filme: “Você veio a mim por que sente que há algo de errado no mundo, não sabe bem o que, mas sente, como um zunido no seu ouvido...”. Então, esse idealista começa a se remexer da cadeira e sente que está acorrentado. Se você leitor, acorda e percebe que está acorrentado, qual sua primeira reação? Se livrar das correntes. No filme, quando Morfeu conta a verdade a Neo que vivia num mundo de sonhos, Neo entra em choque e vomita e nega a afirmação de Morfeu, se mostra hostil. Morfeu fala que depois de certa idade, não é aconselhável libertar uma pessoa, por que a mente é difícil de assimilar assombrosa verdade. O que Morfeu quis dizer com isso é que os jovens têm a mente mais aberta e a filosofia deve ser aplicava inicialmente aos jovens de espírito, independente da idade, basta se é jovem de espírito, e também deve ser aplicada aos líderes, pois são esses que são capazes de mudar o mundo além dos jovens de espírito. Depois de certa idade, é mais fácil viver uma mentira confortável e rejeitar a verdade. Quando esse acorrentado começa a se sentir incomodado pelas correntes é visto pelos amigos acorrentados como estranho, louco, mas o acorrentado não liga e começa a se remexer ao ponto de perceber que está acorrentado.

Morfeu define o que é Matrix: “Matrix está em todo lugar: está quando você vai ao trabalho, quando paga seus impostos, quando vai à igreja, e até aqui mesmo nessa sala. Matrix é controle, é o mundo colocado diante de nós para que não saibamos a verdade.” Depois Neo pergunta: “Que verdade?” E Morfeu responde: “Que somos escravos Neo... vivemos numa prisão que não podemos sentir, ver ou tocar: uma prisão para sua mente.” Se Platão reencarnasse hoje, o povo ia dizer a Platão: “Veja que beleza Platão, hoje não existem escravos, evoluímos...” e Platão responderia: “Nunca vi tantos escravos juntos!” Escravos da mente.

Então, continuando... esse idealista começa a se remexer da cadeira, e solta das correntes do pescoço e dos pés, e ver que toda as pessoas das cavernas estão acorrentadas. A cena que se ver isso é a cena que Neo sai da cápsula em que as máquinas mantinham seu corpo conectado a Matrix, e Neo ver toda a humanidade em cápsulas conectadas a Matrix, com suas mentes presas, assim como seus corpos. Então, ele tente avisar os amigos acorrentados das correntes, da prisão, mas os amigos o olham como louco, pois vivem uma mentira confortável. Então, depois de muita dificuldade, esse idealista escala o imenso paredão íngreme até o topo da caverna e vai a saída. Esse processo pode durar uma vida ou várias vidas, o mais comum e o que acontece com a maioria da humanidade, é durar várias vidas. No meio do caminho da escala para sair da caverna, existem vários caminhos e falsos atalhos que levam a perdição, misticismo em excesso, seitas, e etc. Por isso Jesus diz: “Largo e espaçoso é o caminho do ímpio, e estreito é o caminho do escolhido!” E Neo é esse escolhido. Depois que ele sai da caverna ele ver as coisas iluminadas agora pela luz da verdade, simbolizado pela luz do sol. Ver a natureza e alguns sábios. E bate um sentimento de misericórdia e ele pensa na humanidade, em especial os amigos e familiares, deixados para trás, e ele volta. Nessa volta, segundo Platão, surge o político. São os que os hindus chamam de avatar, ou encarnação da divindade. São os últimos homens que Nietzsche fala na sua Magnum opus “Assim falou Zaratustra”. O último homem é o destino de todos os super-homens, e os super-homens são os heróis, um elo entre nós, meros mortais, e a divindade. São uma ponte. Exemplos de avatares: Buda, Jesus, Maomé, Krishna, Confúcio, Lao-tsé, Moisés, Noé, Apolônio de Tiana, Hermes Trismegisto, Orfeu, Zaratustra, e etc.

Então, quando ele vai libertar algumas pessoas, ver que essas pessoas ficam mais presas as correntes e o chamam de louco. Pois vivem uma mentira confortável. Morfeu explica essa repulsa dos acorrentados num programa de treinamento, que Morfeu diz mais ou menos isso: “Na Matrix vivem professores, carpinteiros, empresários... pessoas que estão tão presos a matrix, ao sistema (as correntes), que se tentarmos libertá-las, elas vão lutar contra nós.” Por isso há uma minoria que está à disposição para ouvir a verdade nua e crua. São os idealistas. Porém, os idealistas brilham, mas se quebram com facilidade, como um cristal. Por isso a filosofia vem para proteger esse ideal. Morfeu simboliza essa filosofia que vem para proteger e libertar Neo da Matrix, do mundo da matéria. Morfeu é o Deus do sono na mitologia grega. Trinity quer dizer Trindade. E Neo quer dizer “novo”. Trocando as letras de Neo, têm-se a palavra inglesa para 1: “One”. E é assim que os americanos chamam os escolhidos: “The One”. O liberto ver que o acorrentado ao lado do que acabou de se libertar das correntes do braços, está mais disposto para ouvir esse que acabou de se libertar da correntes dos braços, pés e pescoço. E assim vai se formando uma corrente de mestres e discípulos. Zion, ou traduzindo para o português: Sião, é a cidade onde existem os em potenciais, os libertos da Matrix, que traduzindo para o mundo da filosofia, são os filósofos por natureza, e não quer dizer necessariamente que sejam filósofos diplomados. A filosofia acadêmica está em decadência. Um professor de ética da universidade pode dar aulas sobre ética sem ter a necessidade de ser ético no seu dia-a-dia. Por isso temos que ser como os filósofos gregos antigos, e procurar praticar a filosofia.

Numa das cenas, em que Morfeu leva Neo ao oráculo, antes de entrarem no apartamento do oráculo, um cego acena para Morfeu. Demonstrando assim que é cego para o mundo da matéria (Matrix), mas não é cego para o mundo espiritual (que é simbolizado por Morfeu). Morfeu é a consciência que passou a vida toda procurando Neo, enquanto Neo só foi o procurar nos últimos anos. Por isso tem uma cena que Morfeu diz a Neo: “Você pode ter passado os últimos anos me procurando, mas eu passei a vida toda procurando você”. A consciência é essa que passa a vida toda nos procurando, se comunicando com nós através da vida, dos sonhos, das pessoas... Tentando despertar o nosso eu espiritual adormecido na matéria. Morfeu é um guia, e diz para Neo: “Eu só posso lhe mostrar a porta, mas é você que tem que atravessá-la”. Morfeu quer dizer com isso que dar as instruções, mas Neo tem que viver e tirar suas próprias conclusões. Tem que caminhar. E quando se caminha, as coisas podem se tornar diferente do planejado. Como diz Morfeu a Neo: “Com o decorrer da caminhada, você verá que existe uma diferença em conhecer o caminho, e trilhar o caminho”. Na continuação de Matrix, Matrix Reloaded, há uma cena em que Neo luta com o protetor do oráculo, e esse diz a Neo: “Só conhecermos melhor uma pessoa depois de lutar com essa pessoa”. Platão chega a dizer que se conhece melhor uma pessoa em uma hora de jogo do que em um ano de conversa. Está ai o por que da teoria do jogos, uma teoria da matemática, ser aplicada em campos das ciências humanas, como na sociologia, ciência política, filosofia e psicologia. A teoria das cordas, uma teoria da física, cai bem nas palavras de Morfeu em Matrix Reloaded onde ele diz: “Aonde vocês vêem coincidência, eu vejo providência”.

Morfeu é aquele que crer na profecia que diz que Neo vai colocar um fim na guerra contra as máquinas. A união de Neo com Trinity simboliza a união do guerreiro com a sua alma. Tank chega a dizer que Morfeu foi um pai para eles. O pai espiritual surge quando esse faz um sacrifício pelo discípulo, e foi o que Morfeu fez. O pai espiritual está numa condição acima de mestre por causa desse sacro-ofício, sacrifício. E Neo responde a essa atitude indo ao que Tank considerava suicídio: salvar Morfeu indo invadir um prédio com vários policiais armados até os dentes, e com três agentes que podem quebrar o concreto e desviar de balas. Neo crer. E aquele que crer, ver, sem necessidade da especulação da mente. E assim Neo e Trinity vão resgatar Morfeu. E conseguem sucesso, e resgatam Morfeu. Pois o corpo, o guerreiro, o eu animal(Neo), e a alma, a artista, o eu humano(Trinity), não podem viver sem seu "eu espiritual", a consciência (Morfeu).

A cena final de Matrix foi belíssima. Neo morre na Matrix, e ressuscita na Matrix, e ver a Matrix como ela é de fato. E é o amor de Trinity por Neo que o liberta. Em Matrix Reloaded, Morfeu diz aos seus companheiros de luta palavras guerreiras que muito bem poderiam ser aplicadas na guerra contra a ignorância: “E se a guerra acabar amanhã, será que não vale a pena lutar por isso? Será que não vale a pena morrer por isso?”. Já o diálogo de Neo com o Arquiteto, têm haver com a teoria do eterno retorno de Nietzsche.

A simbologia do mito da caverna: a luz da fogueira são nossos desejos. As sombras são nossas ilusões. As correntes são nossa ignorância. Os amos da caverna, que não costumam aparecer, são os que controlam a situação do estado dos acorrentados tirando algum proveito. Os acorrentados, que tomam como realidade as sombras que vêem por que nasceram e cresceram nessa condição... então, os acorrentados são a humanidade. O que se mexe da cadeira e percebe que está acorrentado é o idealista. O que se liberta das correntes é o filósofo. O que saiu da caverna é o sábio. O que volta para a caverna para libertar os outros, é o político que Platão fala. O sol simboliza a verdade, pois mostra as coisas como é de fato. E assim caminha a humanidade...

Autor: Victor Da Silva Pinheiro

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VICTTOR DA SIILVA PINHEIRO
Enviado por VICTTOR DA SIILVA PINHEIRO em 16/04/2019
Código do texto: T6624790
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