Sons e imagens (publicado originalmente em 2/3/2019)
No fim da década de 1930, Walt Disney estava à toda. Mickey Mouse completara 10 anos de idade em 1938 (as primeiras palavras do ratinho no curta de estreia foram 'hot-dog!') e os planos do desenhista ficaram grandes demais.
Teve a ideia: elaborar um longa-metragem onde os protagonistas fossem só as imagens e sons. Músicas clássicas, apresentadas pelo maestro, seriam interpretadas pela orquestra e durante a exibição seriam mostradas artes em movimento, traços, cores, enfim, tudo com o objetivo de concatenar as duas maravilhas.
Projeto ousado. Para finalizá-lo, foram gastos anos. A precisão dos lápis, nas mãos dos profissionais do estúdio, teria de ultrapassar a perfeição. Assim, em 1940, chegou 'Fantasia'. Aos olhos de hoje, a obra é difícil e emocionante a quem se debruça sobre ela com atenção.
O plano de Disney se fez presente na tela – apresentações de obras como 'Ave Maria', de Schubert, e a 'The Pastoral Symphony', de Beethoven, explodem num mar de cores nos 8 segmentos animados, um deles com Mickey como protagonista, na história do aprendiz de feiticeiro que ao ver seu chefe dormir coloca o gorro mágico e quase inunda tudo ao redor.
Levado ao cinema nos EUA em novembro de 40 – no Brasil estreou no Natal daquele ano – 'Fantasia' brilhou pouco nas bilheterias exatamente porque o público não compreendeu a intenção do criador do rato famoso.
Disney, inclusive, na tal 'política de boa vizinhança' entre EUA e Brasil, veio aqui para anunciar este longa. A abstração dos desenhistas foi além e os efeitos especiais deixaram todos de boca aberta. E isso levou a Academia de Artes a conceder 2 Oscars honorários por seu trabalho inovador, na festa de 1942.
Se você tiver a chance de assisti-lo, vá em frente. A emoção é certa. Sessenta anos depois, após tentativas frustradas ou deixadas de lado, foi lançada a sequência, 'Fantasia 2000', sem o vigor do original. Duração: 124 minutos. Cotação: ótimo.