Política com vodca (publicado originalmente em 23/2/2019)
O prefeito corrupto quer desapropriar uma área extensa no litoral e pagar o preço bem menor do que a realidade imobiliária. A intenção é levantar ali o complexo comercial, e os moradores que se adaptem ao chamado 'progresso'.
Há ameaças, extorsões, disputas desleais, mentiras, traições, falcatruas. Esta história não deve ser tão irreal a você, leitor (a). E é o enredo de 'Leviatã' (2014), longa-metragem que sacudiu a Rússia ao mostrar sem censuras os podres dos bastidores políticos e as suas consequências.
O diretor é Andrey Zvyagintsev e o filme esteve entre os indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro junto com 'Relatos Selvagens', da Argentina – perdeu para o polonês 'Ida'.
A trama de 'Leviatã' é provocativa e intensa e deixa o espectador sem fôlego com o passar dos minutos (141) por seus personagens, vez ou outra, estarem à disposição da safadeza, seja em qual ramo for.
É Kolay quem está com a casa a perigo. Ele contrata Dimi, grande amigo e advogado de confiança, para defendê-lo. Em meio disto, há o filho Romka e a segunda esposa, a bela Lilya, madrasta do garoto.
Não faltam confrontos e eles se sucedem na medida em que os fatos se desenrolam. O nome 'Leviatã' se refere a um peixe feroz citado no Antigo Testamento, que também traz significados como inveja e maldição.
No lançamento da fita, o governo russo desde o primeiro instante abominou o conteúdo e quis suspender a exibição nos cinemas. Como a proibição e a reclamação sempre ajudam demais a celebrar as obras (livros, filmes, séries etc), logo o roteiro caiu no gosto do público e fez alardes nos tantos cantos.
A fotografia, na maioria das vezes nos tons de cinza, permeia a obra como se fosse uma falsa sutileza. Em 'Leviatã' não existe instante de paz e a vodca se esparrama pelos copos dos personagens. Por seu impacto, vale a audiência. Cotação: bom.