Somos culpados (publicado originalmente em 16/2/2019)

Minimalista. Esta pode ser a palavra a definir 'A Culpa', obra dinamarquesa que podia ter disputado uma das 5 vagas no Oscar de filme em língua estrangeira. Merecia estar junto com, por exemplo, 'Roma' e 'Guerra Fria', dois estupendos trabalhos. Mas, fazer o quê?

O enredo é, à vista primeira, de simplicidade estarrecedora: Asger, policial afastado das ruas (vamos saber o motivo só no fim), cumpre temporada como atendente de chamadas no que seria o 190 do Brasil.

Numa delas, inicia conversa com Iben, a moça que logo dá a entender ser vítima de sequestro. Lidar com este caso e todas as suas consequências – eis o fio condutor da fita de 85 minutos.

O cenário é apenas a pequena sala na qual o protagonista papeia no telefone. Não há trilha sonora. Os diálogos dão o tom seguro do roteiro ágil, inconformista. Ao longo da trama, desvendamos alguns novelos.

O ar de ansiedade, claustrofobia e nervosismo que povoa 'A Culpa' dá a entender que a qualquer momento o sobressalto ocorrerá, seja de que lado for. As pistas salpicadas aqui e ali ajudam o espectador a também desvendar determinados esconderijos, tanto de Asger como de Iben.

A direção do estreante Gustav Möller permeia a película com a atuação surpreendente, arrebatadora de Jacob Cedergen (Asger). Ele consegue, com a economia de tudo – espaço, os diálogos, figurino, a luz – fazer um trabalho empolgante.

Para toda a resolução de conflitos, há traumas, e são eles o empurrão ao longa... E qual deve ser o limite da interferência em um determinado problema? Até onde a ética pode ser esticada?

Asger vive muitos dilemas e contribui para o público também refletir sobre as intromissões que se tornam desgastantes, se não inconsequentes. É claro que 'Roma', o filme da moda atualmente, é o superfavorito a levar a estatueta...

Porém, não seria desagradável se 'A Culpa' fosse premiado. São raros os trabalhos enxutos que têm a leveza e proeza de tentar descobrir, com brilho, os buracos da alma de cada um de nós. Foi trabalho de 13 dias, na ordem cronológica, de estudantes recém-formados da Escola Dinamarquesa de Cinema. Cotação: ótimo.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 18/02/2019
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