A construção dos reis (publicado originalmente em 26/1/2019)
O pilar de 'A Esposa', que estreou nesta semana com Glenn Close no papel-título, está na resposta que a sua personagem dá ao rei da Suécia durante o jantar que homenageia o marido, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. A majestade pergunta a ela: 'A senhora tem ocupação?'. 'Sim, eu construo os reis'.
A chave-mestra do enredo é desvendada aí, porém antes a sensação de impotência e singularidade já é aspirado. Close, indicada merecidamente ao Oscar (tem outras 6 no currículo, sem vitórias), dá vida a Joan, ex-aluna de Joe (Jonathan Pryce na fase adulta – seu trabalho é fabuloso também) num curso de literatura.
Logo sabemos que ela tem todo o talento, ele possui boas ideias, mas falta-lhe a vocação. Ao longo do tempo, Joan se anula em benefício do marido – passa a vida trancada no escritório enquanto Joe se relaciona com babás dos filhos e cozinha.
Os mais de 30 anos juntos começam a mudar quando ele é avisado que receberá o Nobel de Literatura. O embuste é incessante. Close está perfeita em cena. O roteiro baseia-se no livro de Meg Wolitzer, lançado em 2007.
A atriz de 'Atração Fatal' (1987) gostou da trama e se organizou. Ajudou a produzir o longa para ela própria ser a estrela. Com Pryce como seu par, a fita tinha tudo para dar certo. E deu. A direção foi entregue a Bjorn Runge, que não compromete o trabalho.
O jornalista Nathaniel (Christian Slater, da série Mr. Robot) dá o empurrão final – fazer a biografia do autor. Como todo bom periodista, Nathaniel fuça e descobre a verdade. O clã Castleman – o sobrenome do casal – tem ainda David (Max Irons), o filho que deseja ser escritor e se apoia no pai, o grande ídolo de toda a vida.
Laços desfeitos ou nós mais atados? Eis o testemunho da benemerência tardia. Glenn Close deixa Lady Gaga no chinelo. É imperdível. Duração: 100 minutos. Cotação: ótimo.