Chacrinha sem a fantasia (publicado originalmente em 24/11/2018)
O filme 'Chacrinha: O Velho Guerreiro', que estreou essa semana, poderia ser melhor. Tem um roteiro fraco e alguns atores que pensam estar na novela das 6.
O lado bom: não é nada chapa-branca e temos a oportunidade de ver Stephan Nercessian (um superator que sempre foi mal aproveitado na carreira) no papel que marca a sua trajetória profissional – desde o teatro, temporadas atrás, passando pela TV, no especial veiculado pela Globo.
O longa tem na direção um craque: Andrucha Waddington. Ele leva muito bem a trama, cujo início tem como protagonista, o jovem Abelardo Barbosa, o ator e humorista Eduardo Sterblitch.
'Chacrinha' começa com o seu desentendimento e posterior saída da Globo, lá em 1972, após sucessivas brigas com Boni (na fita, é Boni quem corta o sinal do programa de Chacrinha, e a história foi, digamos, resumida).
A vinda ao Rio de Janeiro por um acaso, a coragem de querer ficar e trabalhar com a comunicação, a fama no rádio, a ida à TV. Tudo está ali e Waddington às vezes facilita demais a vida do espectador, ao tentar elaborar o tatibitate propenso à ruína.
Porém, o script também é elogiável por não esconder ou camuflar o personagem. Abelardo era pai ausente, péssimo marido, e a insegurança lhe dominava a todo o momento. Seu temperamento explosivo, a proteção quase nazista com as chacretes e o suposto caso com a cantora Clara Nunes trazem pitadas de fofoca.
É inegável, por outro lado, que o cinema nacional cumpre o papel de espelhar aos brasileiros parte de sua história. Os passos estão ainda lentos, mas há progressos. O caldeirão de cinebiografias tupiniquins segue seu baile e em março vamos ter 'Hebe', sobre a vida da artista de Taubaté.
Sobre Chacrinha, morto em 1988, aos 70 anos, diga-se: marcou época – hoje, o politicamente correto o engoliria. O que fizemos com o Brasil? Duração: 118 minutos. Cotação: regular.