Difícil e forte (publicado originalmente em 17/11/2018)
Alan Ball dirigiu até hoje apenas um filme: 'Tabu' (2007). Baseado no livro de Alícia Erian, roteirizado também por A. Ball, narra a história de Jasira, menina de 13 anos de pai muçulmano e mãe americana, que tenta se adaptar ao mundo de ambos, à sua maneira.
A fita se inicia com seu padrasto cometendo um ato de quase violência sexual, e por isso a mãe Gail (Maria Bello) a manda morar com o pai, Rifat (Peter MacDissi). Mas a garota (Summer Bishil, na época das filmagens com 18 anos) atrai atenção de todos, principalmente dos homens, pela timidez, beleza.
O comportamento repressivo de Rifat a deixa mais complexada, e simultaneamente com a vontade de experimentar a própria sexualidade. Alan Ball trabalha bem a temática da pedofilia, maneja com esmero a centralização de Jasira com Rifat e Travis (Aaron Eckart), vizinho militar (trama se passa em 1990, limite da Guerra do Oriente Médio, governo de Bush pai) tão preconceituoso como Rifat, que se intitula 'americano raiz', uma troça provocativa do script.
É complicado traduzir na tela o emblema da pedofilia, tão propagado como mal discutido. Uma semelhança que se faz com 'Tabu', e óbvia, é com 'Lolita' (1962, 97), escrita por Vladimir Nabocov lá em 1955, e que várias controvérsias criou.
O longa explora ambientes hostis como assédio e estupro, e Summer passa ao espectador todo o medo, ao mesmo tempo inocência e deturpação de imagem para o personagem. A direção é peça fundamental neste processo, que conta também com as participações da sempre talentosa Toni Colette (essa atriz já deveria ter conquistado um Oscar...)
Lynn Collins, que faz a namorada do pai árabe. Trata-se de obra meio hermética, não por ser de entendimento arriscado, e sim porque é de teor destoante de tudo o que estamos acostumados a ver. Suavidade não existe aqui. Duração: 111 minutos. Cotação: bom.