Barata imitação (publicado originalmente em 10/11/2018)
A maioria dos textos sobre a cinebiografia de Freddie Mercury, 'Bohemian Rhapsody', que estreou esta semana, afirma, em linhas gerais: deliciem-se com o filme, apesar da pouca semelhança do ator Rami Malek com o ídolo pop morto em 1991, aos 45 anos, vítima de complicações decorrentes da Aids. Mas como assim?
Pode até ser que de fato não sejam os irmãos gêmeos, porém o longa, dirigido por Bryan Singer, mexe com a emoção dos fãs da banda Queen? Vi a fita e taxo: sim, pelos números musicais. E é óbvio que a resposta seria esta, já que as canções do grupo estão no imaginário mundial.
Foi por isso a decisão de Malek de deixar o playback agir na filmagem. O ator jamais se arriscaria em aspirar querer chegar perto da afinação de Mercury. O roteiro de Peter Morgan e Anthony McCarten vai para seu lado contrário.
Derrama-se em pretender forçar o espectador chorar a qualquer preço. Dribla a linearidade de modo a querer ser moderno, e acaba desgraçando a história, não o seu todo. Malek se esforça para agradar. A conclusão que fica é a de uma imitação barata, mesmo que com o trabalho sério do ator.
E a presença de Mike Myers no elenco, na pele do empresário que 'larga a mão' da banda exatamente no lançamento do disco Bohemian Rhapsody, só faz renegar a obra. Notem a diferença em dois trabalhos: Malek aqui e Gary Oldman como Churchill em 'O Destino de uma Nação'. É fatal.
Um imita, quase no topo da caricatura desfalecida, o outro se inspira, também nos gestos, trejeitos etc. R. Malek, acredito, deve ter assistido mil vezes o vídeo do show de 1985, Live Aid, e está perfeito ali. E soa falso, por mais que pareça o espelho do Mercury real.
Trago à baila tupiniquim. Lembram-se de Andréia Horta como Elis Regina, em 2016? Duração: 135 minutos. Cotação: bom (pelos números musicais).