Os rótulos e as insatisfações (publicado originalmente em 15/9/2018)
Só de o elenco de 'Como Nossos Pais' (2017) ter Maria Ribeiro, Clarisse Abujamra e Jorge Mautner já é algo a se comemorar. Reforça a personalidade da obra ter a direção de Laís Bodanzky, do premiado 'O Bicho de Sete Cabeças' (2001).
Luiz Bolognesi, o roteirista, também dá o carimbo de qualidade. Ele foi o responsável pelo script de, por exemplo, 'Elis' (2017) e 'As Melhoras Coisas do Mundo' (2010).
Tudo isso junto e misturado resulta numa boa canja. 'Como Nossos Pais' é nosso cotidiano cheio de notícias ruins, outras boas, frustrações, decepções, pequenas felicidades e discussões à toa com as pessoas que nem querem debater nada.
E na típica família 'de esquerda'. Rosa (Maria) é casada com Dado (Paulo Vilhena), antropólogo. Leva a vida no automático, desiludida, perturbada pela comunicação zero com o marido. Sucessivas desavenças e segredos vêm à tona.
A mãe, Clarice (C. Abujamra), e o pai Homero (Jorge) estão longe de ser pilares de estrutura baseada em paz e sofisticação, principalmente no lado da matriarca. Laís comanda as ações com naturalidade e passa essa característica ao filme.
De repente, nós mesmos nos vemos na tela, com problemas e dilemas expostos de forma crua, incessante. É Rosa a mantenedora da casa, já que o emprego de Dado raramente dá certo fruto.
Conflitos e descrença, num ritmo de falta de comprometimento absurdo, dá o tom do longa brasileiro. Ressalto a atuação coesa de Maria Ribeiro e Mautner, o trabalho razoável elaborado por Vilhena e Clarisse.
Não desafiam a lógica e fazem o simples. Assim como em 'Festa' (1989), o cantor e compositor rouba as cenas em que surge, com a sua ingenuidade de um intelectual assustado em meio às rápidas transformações do século 21, e ele interpreta de maneira simultaneamente caricata e informal.
'Como Nossos Pais' merecia mais do que teve. Duração: 102 minutos. Cotação: bom.