Sérgio: um sortudo (publicado originalmente em 25/8/2018)
'Sérgio Cabral é o Rio de Janeiro andando'. A frase é de Mário Lago e é a definição mais simples, e não menos exata, sobre o jornalista, escritor e compositor Sérgio Cabral Santos. Há precisamente 10 anos, Fernando Barbosa Lima, Dermeval Netto e Rozana Braga resolveram homenageá-lo.
À época, S.Cabral acabara de chegar aos 70 anos e, assim, ganhou um documentário sobre a sua fulgurante trajetória. É um produto simples, de 65 minutos de duração. Pouca gente viu. Vira e mexe é exibido no Canal Brasil ou Curta!. Mas, em sua solução, cumpre o objetivo de modo impecável.
Com depoimentos de amigos e parentes, dentre eles o hoje presidiário Sérgio Cabral Filho, ex-governador do Rio capturado via Lava Jato, 'Sérgio Cabral: A Cara do Rio' recorda os caminhos que levaram o jornalista a se consagrar por meio de seus textos e músicas.
Vemos histórias sobre o Pasquim, o bar ZiCartola, a alcunha 'Paulinho da Viola', dada por Cabral e Zé Kéti, suas passagens pela penitenciária na época da ditadura, por conta de subversões comunistas, enfim. São bate-papos agradáveis, doces, como se os personagens fossem à nossa casa, sentassem à mesa e tomassem um café conosco enquanto lembravam suas travessas vidas.
E vejam como Cabral (o pai) teve sorte: assim que o filho ladrão começou a ser denunciado, os milhões revelados, o compositor, biógrafo dos imortais Nara Leão, Grande Otelo, Ari Barroso, Elisete Cardoso, Tom Jobim e Ataulfo Alves sentiu os primeiros sinais do mal de Alzheimer.
De uns tempos pra cá, não se lembra de ninguém, e ainda goza de boa saúde, aos 81 anos. Não teve o desgosto de ver o filho atrás das grades, onde mofará por um punhado de anos.
Fã incondicional do carnaval carioca, Sérgio fala no filme sobre esta paixão. Suas composições eternizaram-se no panteão das grandes marchas em favor da folia. Duração: 65 minutos. Cotação: ótimo.