As concessões (publicado originalmente em 4/8/2018)
Primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Ari Aster, o terror ‘Hereditário’ (2018) trata de casos estranhos em uma família dita normal. Começa com o velório e enterro da avó e os dias subsequentes ao fato. Charlie (Milly Shapiro), a neta, era bastante ligada a ela e é a que mais sente falta.
Annie (Tony Colette), a filha, tinha ranços com a mãe, e Peter (Alex Wolff), irmão de Charlie, pouco se importava. E por fim, Steve (Gabriel Byrne), o pai, parece, à primeira vista, o mais ‘normal’ das pessoas.
Aos poucos, o script nos leva a desvendar, passo a passo, os meandros sinistros do cotidiano daquela gente. Paira o mal ali? Qual a razão de a avó persistir como presença constante entre eles? ‘Hereditário’ apresenta ao público uma reviravolta necessária ao entendimento da trama, ainda que inesperada e ousada.
A. Aster se apresenta à sétima arte como um cineasta sem concessões. Ponto positivo a ele, ainda mais porque as sequências se tornam impressionantes como o passar dos minutos. E, já era tempo, o diretor deu a Colette um trabalho a sua altura. A quem não se lembra, a atriz fez a mãe do menino que via os mortos em ‘O Sexto Sentido’ (98).
Ela ajuda a fita a ter credibilidade, por sua atuação segura. É Colette quem dá a base ao restante do elenco. Sua personagem trabalha com miniaturas do cotidiano, e é por meio delas que, de alguma forma, tudo se desenvolve.
O casamento não tem comunicação, Charlie é a filha rejeitada por conta de uma maternidade forçada e a mãe, morta no início do filme, era bem autoritária e prepotente. O diretor lida bem com essas bizarrices impostas por ele próprio, como na cena em que a Charlie corta a cabeça de uma pomba. Duração: 127 minutos. Cotação: bom.