O mito Guarnieri (publicado originalmente em 14/7/2018)
Ator, diretor, dramaturgo, compositor. Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) foi tudo isso e mais um pouco. Ano passado, seu neto Francisco resolveu que a trajetória do autor de ‘Eles não Usam Black tie’ (1981 no cinema, mas anos antes o estouro de encenação nos palcos dos teatros) tinha de ser contada em película.
Entrevistou os dois filhos do primeiro casamento do avô – os atores Paulo e Flávio (1959 – 2016), juntou um rico material de arquivo – entrevistas na TV, jornais e revistas, além de seriados e novelas, e montou o longa. A quem o conhece ‘de ouvir falar’ ou nem sabe de quem se trata, Guarnieri foi um intenso defensor do trabalhador, digamos assim.
Apoiava causas da esquerda, os movimentos estudantis, sindicatos, enfim, e paralelo a isso, ou até por extensão, mirou a sua arte nestes temas. Só a história de ‘Eles não Usam Black tie’ faz referência a vários pontos, como a greve, por exemplo.
O ator escreveu a peça aos 24 anos, em 1958, quando o país vivia a calma do governo JK, a bossa nova havia sido criada e o Brasil tinha conquistado a 1ª Copa. Neste paraíso, pôs o dedo na ferida. A relação arte – política era a vida dele. Não havia como separar.
Simultaneamente, Francisco revela a dificuldade dos dois filhos em manter as carreiras regulares de ator longe da sombra do pai. Um deles chega a revelar nunca ter ‘ficado à vontade’ na profissão de intérprete, e hoje é dono de um hotel. “Eu sabia a tamanha importância de dizer ‘te amo’ a ele e vice-versa...
Era a pessoa tão significativa, importante no cenário nacional, tão envolvida com política e teatro, que nós, os filhos, tentávamos aproveitar cada momento juntos”, diz Flávio. O documentário pinta
ao público um Guarnieri de muitas facetas. Duração: 70 minutos. Cotação: bom.