Ternura até a página 2 (publicado originalmente em 26/5/2018)
Tom Mc Grath dirigiu alguns dos sucessos da animação da década passada e desta. A saber: a trilogia ‘Madagascar’ (2005, 2008, 2012) e Megamente (2010). Ano passado, o também dublador e roteirista lançou ‘O Poderoso Chefinho’. É para ser assistida por crianças e adultos e não tem tanto aquele tati-bi-tati de determinados desenhos.
Evidentemente, deixará poucas marcas, pois está longe de ser uma obra indelével. Pode soar meigo e cheio de ternura nos primeiros minutos, porém a história se torna insossa e previsível ao longo do tempo. Trata-se de uma família (pai, mãe, filho) que de repente se vê às voltas com o novo membro – o tal Poderoso Chefinho: a criança superdotada, sempre trajada com terno e gravata, cujo cotidiano é resolver problemas como se estivesse numa repartição pública.
Mas é claro que as intenções do recém chegado possuem outros valores, e o enciumado irmão mais velho inicia a pesquisa e a investigação para arrancar a máscara do delinquente petiz. Tudo muito bem, ou não? Não, friso. ‘O Poderoso Chefinho’ vai se juntar a um emaranhado de outras produções daquelas típicas de prateleira – viu uma vez, e vai ao estoque direto, sem delongas. O cinema tem produzido os desenhos direcionados a adultos e criança com qualidade imensa, e não é o caso aqui.
Quem viu, por exemplo, ‘Chico & Rita’ (2010), ‘Anomalisa’ (15), ‘Memórias de Marnie’ (2014), ‘Persépolis’ (2007), e o ótimo ‘Mary & Max: Uma Amizade Diferente’ (2009), para ficar neste século, sabe do que escrevo. São produções com conteúdo teórico, baseados em tramas que envolvem psicanálise, morte, sexo, ira e depressão, além de guerra.
Na festa do Oscar deste ano tivemos ‘Com Amor, Van Gogh’ (escreverei sobre ele na semana que vem), longa-metragem de calibre ousado, totalmente inspirado nas pinturas do Mestre das Tintas. ‘O Poderoso Chefinho’ está com as fraldas sujas perto desses outros citados. O bom gesto da Academia de Artes em não dar a estatueta dourada a este filme prova que ainda temos esperanças.
Mas, calma. Se nem tudo está perdido, e se o seu filho ou filha pedir a você um desenho, e o seu gosto for por longas-metragens, experimente dar a ele os minutos de ‘Fantasia’ (1940), ou de ‘Branca de Neve e os Sete Anões’ (1937), ‘Cinderela’ (1950), ‘Dumbo’ (1941). São remédios que nunca falham, realmente. Walt Disney, nos tempos áureos, era um colírio. Sobre ‘O Poderoso Chefinho’, sua duração é 97 minutos. Cotação: ruim.