Um filme bem feito (publicado originalmente em 10/3/2018)
Em um misto de falso documentário com dramalhão quase esbarrando no mexicanismo, ‘Eu, Tonya’, o filme que levou a outro patamar a atriz Margot Robbie (‘Um Lobo em Wall Street’, 2013), consegue prender o espectador pela violência extrema e ao mesmo tempo a ternura sem
igual na carência da personagem-título, a patinadora Tonya Harding.
Desde muito cedo ela sofreu com a forte exigência da mãe, LaVona (Alisson Janney, a mãe de ‘Juno’ – 2007), a espécie de Fletcher (o professor sádico de ‘Whiplash’ – 2014) em versão feminina, para se tornar profissional do esporte e ganhar todas as medalhas possíveis.
Tonya era sucessivamente humilhava por ela, e apanhava até dizer ‘chega!’. E não foi à toa que desejou casar cedo. Aos 20 anos, ela pensou ter encontrado o amor de sua vida, Jeff (Sebastian Stan, de ‘Perdido em Marte’, 2015). Enganou-se.
Levou bordoadas dele também. Mesmo com tantos traumas, Tonya sempre se sobressaía. Treinava horas e horas por dia e exigia de si a força descomunal que não tinha na vida sentimental. LaVona foi desumana, impiedosa a qualquer tempo. Impassível, ficou indiferente ao
relacionamento da filha. Aviltava Tonya sem sossego.
O longa tem a direção do australiano Craig Gillespie (dos bobos ‘A Garota Ideal’, 2007, ‘A Hora do Espanto’, 2011). O seu comando é
seguro e surpreende em determinadas sequências. Não foi à toa que ‘Eu Tonya’ foi indicado a 3 Oscars, na festa que ocorreu semana passada: atriz (Margot), coadjuvante (Alisson) e a edição. Margot está impecável.
Se eu fosse um votante da Academia, preteria Frances McDormand (ganhadora da estatueta na festa de domingo passado) e depositaria meu voto em Margot. Descabelou-se ao papel, e apenas por isso perdoa-se os tantos palavrões que diz na fita. Em nada lembra a depravada– de outra maneira – de ‘O Lobo de Wall Street’, a esposa de Jordan (Leonardo DiCaprio), Naomi.
A atriz está segura e não dá espaço para o erro. E o que dizer de Alisson? Finalmente ela teve um papel à altura de seu talento. A caracterização de sua personagem está alinhado ao real, e, como toda boa história baseada em fatos, no fim podemos comparar os atores e atrizes com as pessoas verdadeiras, e é neste ponto que temos a grata admiração de que estes são piores ou de igual caráter que os interpretados em ‘Eu, Tonya’. Por isso, Alisson levou o Oscar de atriz coadjuvante. Duração: 119 minutos. Cotação: bom.