Sem aquela empolgação (publicado originalmente em 10/2/2018)
A memória me falha agora, mas li em algum lugar por estes dias a seguinte frase: ‘Quando nós vamos desabafar sobre algo que nos incomoda, usamos geralmente as redes sociais – Facebook, Twitter etc. Quando Steven Spielberg quer desabafar, faz um filme’.
Tentador. As palavras se referiam ao recém-lançado ‘The Post: A Guerra Secreta’ – Meryl Streep e Tom Hanks nos papéis principais. O diretor de ‘Tubarão’ (1975) e ‘O Resgate do Soldado Ryan’ (1998) quis atingir em cheio Donald Trump, o atual presidente dos EUA.
Assuntos como as ‘fake news’ (notícias falsas), as mentiras usadas por governos para tentar disfarçar assuntos cabeludos e as artimanhas para ludibriar a população, estão na fita. E desde já aviso: não é grande coisa.
Cheia de clichês baratos e atuações, em alguns casos, de corar os espectadores, o longa-metragem mostra como foi a escalada da fama do jornal ‘Washington Post’ na cobertura da Guerra do Vietnã (1965-75), em relação a documentos secretos que acusavam os EUA de várias manobras para controlar países com ‘problemas de democracia’ ou ‘ameaça comunista’.
A dona do jornal, Kay Grahan (Streep, indicada ao Oscar pela 21ª vez, em 40 edições do prêmio), teve de ocupar lugar do marido, que cometeu suicídio. É insegura e entende pouco ou nada de jornalismo. Em contrapartida, Ben Bradlee (Hanks), o redator-chefe, é obcecado pelo trabalho.
Quando descobre os papéis do governo, não mede consequências para publicar e ‘furar’ o The New York Times. Editado às pressas, e produzido da mesma forma, ‘The Post’ tem várias derrapagens. Quer ser ágil quando o momento pede silêncio.
Tenta ser dramático, mas fora de hora. Até mesmo as sequências de humor, por assim dizer, são forçadas. Determinados takes e diálogos, se
você não entende inglês e necessita acompanhar as legendas, perdem-se nos caprichos do roteiro. Só o público restrito dos EUA entende e sabe a história.
Streep e Hanks sobressaem-se porque são excelentes atores, mas ele, percebe-se, é o mais desconfortável. Chega a ser constrangedor quando o intérprete de Chuck Noland (‘Náufrago’, 2000) põe os pés na mesa, no estilo ‘jornalista sabidão’, e balbucia algo meio impertinente.
Todavia, há as cenas típicas de Spielberg: a reconstrução da época, as máquinas impressoras dos jornais, tudo é magnífico e perfeito. Duração: 111 minutos. Cotação: ruim.