Um pequeno grande ator (publicado originalmente em 16/12/2017)
Nesta última coluna do ano, um filme cuja finalidade é contagiar pela emoção e devoção. Nada mais que isso. ‘Extraordinário’, em cartaz há 5 dias, foi feito para ser assistido pela família toda, sem tirar nem por. A história do garoto Auggie, de 10 anos, na batalha contra o bulling escolar, toca até quem tem o coração de temperatura abaixo de zero.
Nascido com rara síndrome, o menino foi submetido a 27 cirurgias plásticas desde sempre.
O rosto ficou malformado. Ele é fã de ‘Guerra nas Estrelas’ e tem uma irmã, Via (Izabel Vidovic), mais velha, que sempre perde para ele a atenção máxima dos pais. Auggie tem a energia e a vontade de uma criança desejosa por vencer, ainda que tenha receio de mostrar a imagem sua nas ruas e perambule com um capacete de astronauta a todos os lugares–ele quer viajar à lua um dia.
Na escola, claro, alguns colegas zombam dele, mas outros lhe dão a mão. O roteiro, a partir deste fio da meada, encaminha o público a sequências lacrimejantes – algumas com tinta carregadíssima. O melhor de ‘Extraordinário’, pelo menos pra mim, foi descobrir quem interpreta Auggie.
Confesso: pensei inicialmente se tratar de um ator com a face destruída e tudo o mais. Não. Jacob Tremblay é o autor da façanha. Se você puxar pela memória, Jacob foi o protagonista de ‘O Quarto de Jack’ (2015). Deveria obrigatoriamente ter sido finalista no Oscar do ano passado na
categoria Ator Coadjuvante, mas nem foi selecionado.
Absurdo à parte, o menino recebeu milhares de palavras positivas pelo seu trabalho. E em ‘Extraordinário’ repete a excelente qualidade. Que ator! As câmeras têm com ele uma total cumplicidade. Julia Roberts e Owen Wilson dão vida aos pais de Auggie e, principalmente ela, é
de uma empatia fora do comum. A mãe sofrida, envelhecida, que largou tudo para cuidar do filho, e o trabalho de lado inclusive, fez com que a atriz convencesse de cabo a rabo.
Stephen Chbosky, diretor, comanda a fita com a missão de facilitar a vida do espectador, pra que a gente chore o maior número de vezes possível. A Academia de Artes Cinematográficas, organizadora do Oscar, tem como tradição não indicar crianças a categorias ditas ‘principais’ do
prêmio, como ator, por exemplo. Assim, não me causaria espanto se Jacob Tremblay disputasse a estatueta como coadjuvante.
Sim, eu sei. Injustiça das injustiças se isto ocorrer. Porém, é o que tem. Ainda que ele mereça demais, duvido que aqueles votantes senis ponham o ator mirim na lista dos 5 melhores no quesito Ator Principal. J. Tremblay, este pequeno grande ator. O clichê vale. Tem a participação especial de Sônia Braga. Duração: 113 minutos. Cotação: bom.