Para usar (ou não) o lenço (publicado originalmente em 9/12/ 2017)
Quando notei ser Andy Serkis o diretor de ‘Uma Razão para Viver’ (Título original: ‘Respirar’), desde a semana passada em cartaz nos cinemas brasileiros, espantei-me. A quem não se recorda, Serkis é o intérprete de ‘personagens de computador’ – por exemplo, Golum, da trilogia ‘O Senhor dos Anéis’, e Caesar, das fitas do ‘Planeta dos Macacos’.
Tinha gente até que fez lobby para a inclusão de seu nome na lista dos concorrentes a melhor ator nos Oscars dos anos correspondentes aos longas, tal era a sua perfeição na colocação das feições, olhares e as falas destas figuras fictícias. Eis que ‘Uma Razão para Viver’ é o seu trabalho de estreia como maestro, na principal cadeira do set de filmagem.
Trata-se da história real de Robin Cavendish (1930-1994), advogado inglês famoso por ter alastrado as melhorias médicas a favor das vítimas da poliomielite, doença que ele próprio contraiu antes dos 30 anos e, de maneira estoica, superou cada obstáculo que via à frente.
Roteirizado por William Nicholson (não é o parente de Jack Nicholson), de ‘Gladiador’ (2000), ‘Uma Razão para Viver’ tem no papel principal Andrew Garfield (do ótimo ‘Até o Último Homem’, 2016), com Claire Foy na pele da esposa Diana.
O fato é que a força da parceira fez com que Robin quisesse viver. E Serkis, como diretor, desenvolveu o trivial e comandou o elenco sem atrapalhar ninguém, o que já é grande coisa para um estreante. E o filme não compromete porque não deseja fazer o público pensar e aborda temas espinhosos, como é o caso da eutanásia, de forma ‘romântica’, se é possível usar essa palavra.
Tudo é feito para os lenços entrarem em ação e em determinadas cenas quase não dá para escapar. Mas mostrar a trajetória de Robin, que não estava nem aí se havia dificuldades imensas em viajar e fazer passeios grandes tendo a tiracolo um respirador manual ou eletrônico, isso na
década de 1960, onde os recursos tecnológicos eram praticamente nulos, é o que realmente importa a Serkis e Nicholson.
Jonathan Cavendish, filho de Robin, é hoje produtor de cinema em Hollywood, com bons filmes no currículo – ‘Elizabeth: A Era de Ouro’ (2007) é um deles. E Jonathan pegou as rédeas de ‘Uma Razão para Viver’ é se tornou um dos produtores. Não sei se é por isso que a obra é tão lacrimejante, por incluir no script as cenas bem íntimas da família, como o momento da morte do advogado, porém a cinebiografia tem ingredientes que não deixam os espectadores de mãos abanando. Duração: 118 minutos. Cotação: bom.