Sade, o marquês (publicado originalmente em 2/12/2017)
O dia 2 de dezembro marca a morte de um dos mais polêmicos escritores dos séculos 18 e o início do 19: Marquês de Sade– Antonié Rogerie Tolomey de Sade, morria há 203 anos. Para quem se lembra, o filme sobre sua filosofia, lançado em 2000 e protagonizado por Geoffrey Rush, é um dos trabalhos melhores acabados do diretor hoje octogenário Philip Kaufman.
Na história, vivendo em um asilo no fim da vida, Sade torna-se amigo do diretor do local, Abbe Coulmier (Joaquin Phoenix). Eles trocam confidências a respeito da afeição de ambos sobre a lavadeira Madeleine (Kate Winslet). E Napoleão Bonaparte envia ao asilo um conceituado
médico (Michael Caine), no intuito de curar o marquês da suposta loucura.
A vinda do médico torna a rebeldia de Sade mais forte. O cotidiano se transforma no caos. Proíbem-no de escrever histórias, o que faz com que ele redija suas tramas pornográficas na roupa, e com seu sangue. Além do elenco gabaritado, ‘Os Contos Proibidos do Marquês de Sade’
tem boa direção de arte e figurino não-comprometedor.
Estas duas categorias concorreram no Oscar, e o ator Rush, idem. De fato, o seu trabalho é estupendo e Kaufman o ajudou na construção da figura de uma forma estonteante. Rush, que havia levado o Oscar pra casa 4 anos antes, por ‘Shine: Brilhante’, quase repetiu a dose na festa
de 2001, mas disputou com pelo menos 3 de igual patamar– o vencedor Russel Crowe (‘Gladiador’), Tom Hanks (‘Náufrago’) e Ed Harris (‘Pollock’). Javier Bardem (‘Antes do Anoitecer’), o outro finalista, era ainda um ator sem a fama atual.
Em seus 74 anos de vida, Sade cometeu crimes sexuais contra mulheres, crianças, e teve várias condenações. De seu nome foi criada a palavra sadismo – pessoas que têm prazer em ver as outras sentirem dor de qualquer tipo, e dentre eles o sexual. ‘Contos Proibidos...’ tem a qualidade de recriar a época de maneira elogiosa e de não se preocupar em demasia com os traços ‘podres’ daquele ser humano.
Kaufman, que uma década antes dirigira ‘A Insustentável Leveza do Ser’ (1988), pelo qual foi indicado ao Oscar de diretor, tem neste ‘Contos Proibidos...’ a linha grossa, nada tênue, de praticar o bom cinema com o tema espinhoso, e a facilidade com a qual transmite o script do
então estreante Doug Wright à telona surpreendeu-me. Duração: 124 minutos. Cotação: bom.