20 anos sem Zózimo (publicado originalmente em 18/11/2017)
Os jornalistas recém-formados, ou os estudantes desta carreira tão penosa e ao mesmo tempo muito valiosa, nem sabem, nem querem saber, afirmo com categoria, quem foi Zózimo Barrozo do Amaral.
Neste 18 de novembro alguns poucos vão se lembrar da passagem de duas décadas exatamente sem o colunista social e jornalista de ‘O Globo’ e o extinto ‘Jornal do Brasil’. Há um livro na praça, por sinal muito bem escrito– a biografia de Zózimo: ‘Enquanto Houver Champanhe, Há Esperança’.
Publicado ano passado pela editora Intrínseca, cujo autor é o também redator Joaquim Ferreira dos Santos, as páginas traçam a cidade do Rio de Janeiro dos anos 1940 aos 90 por meio das passagens homéricas vividas pela lente nada angular de Zózimo.
Os romances, os furos de reportagem, as amizades, todas as brigas e confusões, as bebedeiras, os jantares, as festas e o fulminante câncer nos pulmões que por fim o levou à morte, em 1997, aos 56 anos, estão passados a limpo por J. Santos. Zózimo veio de uma família abastada, abonada, filho de um magnata de apelido ‘Boy’.
E o primeiro emprego de Zózimo, aliás, foi conseguido por meio do empurrãozinho do pai. Em 1959, entrou em ‘O Globo’ para colaborar com a ‘Coluna do Swan’, personagem inventado pela publicação a fim de noticiar fatos do mundo das socialites, onde o glamour imperava de forma acachapante.
Zózimo se ambientou de imediato àquele estafe de uísques, champanhes, saladas, carnes e outros pratos refinados apresentados praticamente todos os dias à noite em restaurantes e boates
fluminenses. Nas décadas de 1960 e 1970, a explosão do colunismo social foi tamanho que Zózimo optou por aceitar a proposta do ‘JB’, onde o seu nome surgiria no alto da página, e com salário multiplicado.
Autor de frases curtas, as famosas notinhas de informações, que conseguiam sintetizar em espaço ínfimo com humor e ironia venenosa, Zózimo foi consagrado no tempo certo. Uma delas, acerca da confusão e da discussão sobre quem ‘inventou’ o ‘Plano Real’, em 1994, ele
escreveu: ‘O Real precisa urgentemente de um exame de DNA’. Além disso, costumava terminar as colunas com suas dicas simultaneamente ingênuas e sacanas: ‘O problema de Brasília é o tráfego de
influência, já no Rio de Janeiro o problema é a influência do tráfico. Quem não deve não treme.’
E Zózimo, assim como Carlos Castello Branco, biografado brilhantemente em ‘Todo Aquele Imenso Mar de Liberdade’, do também jornalista Carlos Marchi, não pode ser esquecido.