Quando Fred conheceu Theo (publicado originalmente em 14/10/2017)
Assim como ‘Um Homem Chamado Ove’ (2015) comoveu meio mundo, ‘A Montanha Matterhorn’ é o ingrediente básico para sensibilizar igualmente. A fita, lançada no Brasil no meio da Copa-2014, foi vista por pouca gente nos cinemas. É uma produção holandesa, dirigida por um
estreante – Diederik Ebbinge – e estrelada por dois atores completamente desconhecidos aqui: Ton Kas e René van’t Hof.
A história mostra Fred (Kas), 54 anos, recém viúvo. Ele anda pela cidade apenas de ônibus, frequenta a igreja do pequeno vilarejo onde mora e come todas as noites a mesma refeição: vagem com carne e batatas, todos os dias às 6 da tarde. Mas um dia Theo (Hof), um sujeito que de início Fred considera um golpista, assopra ares de transformações pequenas em sua rotina.
Aos poucos, Fred desata os nós de sua timidez e pouca força de vontade e passa a explorar o mundo à sua volta. Muita coisa do script não tem como contar aqui, porém o pouco a se informar é que a obra é repleta de singeleza, comoção e simplicidade. Ebbinge teve nas mãos dois atores singulares, cujas expressões de desânimo (Fred) e de curiosidade (Theo) permeiam todos os 85 minutos do filme.
A contradição imantada com algumas caraterísticas, como a bizarrice e a comicidade, levam o espectador a crer estar de frente a um longa que seguramente deixará marcas. E é precisamente o que ocorre. O amor de Theo (só sabemos sobre o seu nome quase no fim do filme, e os motivos de ele ter aquele comportamento estranho também, apesar de ser um tanto evidente) pelas cabras faz Fred rever o conceito da alegria e da busca eterna à felicidade.
Com tão pouco, o amigo com feições inapetentes imprime ao cotidiano do viúvo uma nova realidade. Ebbinge, o diretor, consegue ar ao público interpretações quase filosóficas da dupla, e nos enternece sobremaneira com o laço criado entre eles. Tanto Kas como Hof refletem
imparcialmente a magia do cinema.
Estão à disposição do silêncio, só quebrado pelas árias de Bach, das quais Fred é o fã mais ardoroso. ‘A Montanha Matterhorn’ (a referência ao título não conto – deve-se assistir) não é daquelas fitas de cunho comercial, com exibições em tudo que é canto. Provavelmente, você
poderá vê-la na TV Cultura, Telecine Cult, Canal Curta!, ou Netflix. Creio que na internet também.