Chaplin no circo (publicado originalmente em 19/8/2017)
Dentre os tantos filmes de Charles Chaplin, ‘O Circo’ (ainda não comentado neste espaço ao longo de quase 14 anos de coluna) é um dos momentos mais marcantes na carreira do cineasta, um dos nomes mais destacados do século 20, talvez o maior.
Em ‘O Circo’, que comemorará 90 anos de lançamento em 6 de janeiro de 2018, alguns traços já fixados na maneira com a qual ele trabalharia em suas fitas posteriores, como a negação ao romance, o antagonista galã e os traços do personagem que moldou a trajetória de Chaplin: o vagabundo– cartola, calças largas, sapatos de palhaço, além do inconfundível bigodinho central, mais tarde copiado por Adolf Hitler.
Três meses antes do longa ser exibido, outro trabalho fez Chaplin se arrepiar e se revoltar: ‘O Cantor de Jazz’ (1927), o primeiro filme falado da 7ª arte. O cineasta demorou bastante para tentar começar a aceitar as falas em suas películas. ‘O Circo’ ainda estava sem som e Carlitos reina absoluto. A trama se inicia com um batedor de carteiras (Steve Murphy) agindo na multidão. Para não ser preso, põe a carteira roubada no bolso do faminto Chaplin sem que este perceba.
O tumulto se origina quando o gatuno quer rever o produto. O vagabundo vai acidentalmente a um picadeiro do circo local. Sem querer, entra no espetáculo e faz sucesso enorme. O dono (Al Ernest
Garcia) o contrata e quer se aproveitar dele, já que Chaplin não sabe da fama que tem. O protagonista tem tempo também para se apaixonar pela acrobata (Merna Kennedy), enteada do dono do circo, que a maltrata e a explora.
O filme é recheado de esquetes e quando finalmente os escritos do script entram na parte central, cujo cenário é o circo pobre e quase abandonado, tudo vai se desenrolar. Há sequências hilárias, como a do vagabundo na corda bamba tentando superar tudo o que o verdadeiro equilibrista faz.
Quando surgem os macacos para atrapalhar a performance, rir é a única vontade. A fita recebeu apenas em 1970, mais de quatro décadas após o lançamento, o Oscar de Trilha Sonora, composta toda ela por Chaplin. Fato semelhante ocorreu com ‘Luzes da Ribalta’, de 1952. Foram necessários 20 anos para que o cineasta se apresentasse na Academia de Artes e enfim recebesse seu troféu. Antes, por conta do macarthismo, o inglês estava exilado na Suíça, impedido de entrar em
terras dos Estados Unidos.