A Kennedy (publicado originalmente em 27/5/2017)
Sempre, não sei a razão, que analiso o trabalho de Natalie Portman traço um paralelo imediato com o da sua colega de trabalho Scarlett Johanson. A fortuna acumulada não serve pra mim no parâmetro, mas sim os dotes não apenas físicos, porém principalmente talentosos. Em ‘Jackie’ (2016), mais uma vez Natalie se reinventa.
Ao dar vida à ex-primeira- dama Jackeline Kennedy (1929-1994) no espaço de tempo entre o assassinato de seu marido e a entrevista dada a um jornalista dias depois, a atriz se mostra completamente carregada de bom senso e faro de boas oportunidades. Para realizar esta obra de cunho emocional altíssimo e relevante a compreender os anos que se passaram nos EUA, ‘Jackie’ teve como diretor o chileno Pablo Larraín, do excelente ‘No’ (2012).
Noah Oppenheim, o roteirista, é autor dos trabalhos ‘Convergente’ (2016) e ‘Correr ou Morrer’ (2014). Enxuto (tem 1 hora e 40 min. a duração), objetivo, e de figurino aprazível e cheio de atores competentes que seguram bem a trama, a fita prende o público porque há assuntos a serem tratados.
Jackeline teve a consciência de que a sua imagem que ficaria à posteridade seria a que ela criasse com a publicidade a seu favor. Logo após a morte de John Kennedy, a primeira-dama faz malabarismo pra passar ao público que tipo de mulher ela é e deseja ser daqui em diante. Não é fácil. E Larraín trabalha otimamente bem neste cenário. Em ‘No’, a quem se lembra, a sombra era a política e a ditadura de Pinochet.
Em ‘Jackie’, o cineasta está tinindo porque o assunto está na ordem do dia: como lidar e polir sua imagem? Jackeline Kennedy, mesmo com os traumas, se supera de maneira suprema. Portman está sublime no papel. É incrível a qualidade desta moça.
E qual a razão de eu lá no começo da coluna citar Scarlett Johansson como um paralelo a Natalie? É que Scarlett, apesar de milionária, só está em filmes blockbuster. A Viúva Negra dos Vingadores já passou da hora de se aposentar. Quando não é heroína, está em romances bobos e tolos. Uma pena. Enquanto uma se esmera em ficar à posteridade, a outra parece que não precisa. Só o dinheiro vale. Antes, como em ‘Encontros e Desencontros’ (2002), ‘Moça com Brinco de Pérola’, de 2003, e os filmes de Woody Allen, como ‘Match Point’ (2005) e Scoop (2006), estava, sim, por cima.