Moonlight sob a Luz do Luar
Se Hollywood há muito estava devendo uma representação cinematográfica que justificasse essa ausência tão reclamada para com a Raça Negra, algo assim que ultrapassasse as fronteiras dos clichês, em MOONLIGHT redimiu-se. Não há mais o que reclamar.
Além de vários prêmios conquistados, o filme foi indicado a oito OSCAR e acabou ganhando o de melhor filme, melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali) e de melhor roteiro adaptado.
Exatamente como é na Vida, o filme caminha em passos longos, mas lentamente e nos dá a impressão de uma busca constante sem olhar pra trás. Um profundo senso de busca de identidade. Se a proposta foi boa, o resultado foi ótimo. Berry Jenkins (diretor) soube focar com brilhantismo uma estória de um garoto de uma comunidade negra em Miami, pobre e sob o domínio das drogas. Contudo esse brilhantismo se supera com a atuação convincente dos atores nos papeis de “Litlle” o garoto, depois “Chiron” e finalmente “Black”, como diz a música no início do filme: Every nigger is a star -“Todo Negro é uma estrela”. Em determinado momento, o traficante diz à “Litlle”: Quando eu era criança, uma senhora me disse que meu nome era Blue, então meu nome era Blue. Por que Blue? Perguntei, e ela disse: Por que todo negro é azul a luz do Luar. Dai o título. O lugar comum na temática das drogas e traficantes cujas abordagens são factuais com viés à violência, aqui não é diferente com uma ressalva: O lado humano. Mas se o tema é previsível e o final surpreendentemente romântico, no filme tem-se uma visão mais simplista e mais suave da miséria e da margem da Sociedade.
“Litlle” é o personagem inicial, um garoto sem pai cuja mãe mesmo envolvida no consumo do “crack” se envolve com o filho ora com amor ora com desprezo. É quando ele encontra com a figura do traficante que o adota como um filho já que “Litlle” odeia a mãe. O ser humano quando tocado se comporta às vezes como humano e mesmo no submundo underground ainda se pode sonhar e ser feliz. A mim parece ser esta a Proposta.
Chiron quase não fala, mesmo assim nos é apresentado três vezes de forma brilhante, seus gestos também simples, mas sinceros, falam por ele.
Mais a frente após várias experiências dolorosas, Chiron se redescobre inclusive sua verdadeira identidade sexual. Torna-se também um traficante de drogas, mas continua uma pessoa diferente e introvertida.
Pode não ser o melhor (OSCAR), mas o filme é qualificado, com um roteiro e fotografia bem elaborados, com momentos impactantes. Certamente vai marcar esse tempo em que vivemos, tempo de violência, de bulling, drogas, homofobia e racismo, especialmente nas comunidades negras pelo Mundo afora.
Por Álvaro Francisco Frazão.