A ‘mão’ do diretor (publicado originalmente em 25/2/2017)
Katherine Johnson (Taraji P. Henson) sabe solucionar qualquer equação matemática. Desde criança. O talento a levou ao topo, mas obscurecido. Estamos nos anos 1960, auge da discriminação racial nos EUA. Na Nasa, além de Katherine, ‘Estrelas Além do Tempo’, ainda em cartaz em São José dos Campos, apresenta Dorothy (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe). Elas igualmente feras nos cálculos.
Mas no governo dos EUA, as três só têm lugar num canto do escritório. São chamadas de computadores, e as alas são separadas. Há os banheiros dos brancos e os dos negros, o bule de café dos brancos e o dos negros, e assim por diante. Um dia, Katherine é convocada a ajudar na corrida espacial.
Cai direto no departamento liderado por Al Harrison (Kevin Costner –eu ainda me pergunto como este bom ator se prestou a fazer ‘O Guarda-Costas’, 1990), que tem como auxiliar Paul (Jim Parsons, o Sheldon da série ‘Big Bang: A Teoria’). E as hostilidades seguem. Dorothy e Mary também sentem na pele tal ignominia.
A primeira quer, mas não consegue, se tornar supervisora de seu setor, por conta do preconceito. A segunda precisa ir aos tribunais a estudar na universidade exclusiva de brancos. Tudo isso foram fatos reais. Sob a direção de Theodore Melfi, ‘Estrelas Além do Tempo’ não é cansativo. O elenco é coeso, sabe bater bola para as interpretações e jogam limpo.
Octavia, indicada ao Oscar de coadjuvante, é bastante competente. Todavia, não seria exagero apontar tanto Taraji como Janelle ao prêmio também. Salta à vista que as atrizes tiveram prazer em trabalhar no projeto. Passam à telona seus carismas específicos. Theodore tem mão firme e segura a trama, baseada em livro de Margot Lee Shetterly. E como se percebe a tal ‘mão’ do diretor? Simples: os gestos do cast, os olhares, as pausas corretas, as tomadas das câmeras etc.
É difícil achar erro na fita. A direção de arte é incrível e o figurino de época, idem. Sem spoilers, o instante de maior emoção é o desfecho. As três fotos das mulheres reais, que inspiraram o filme. Aos 98 anos, Katherine segue firme. Mary morreu em 2005, aos 84, e Dorothy se foi em 2008, aos 98! O título nacional, vejam vocês, é melhor do que o original (Figuras Escondidas). Faz jus ao trio de ferro.