O 'erro' certo (publicado originalmente em 11/2/2017)
'Sully: O Herói do Rio Hudson’ (2016) esteve em cartaz por aqui até pouco tempo atrás. É o 35º filme dirigido por Clint Eastwood. Aos quase 87 anos de vida, o cineasta segue em forma e transforma boas tramas em filmes de bom gosto. Neste, leva à telona o caso verídico ocorrido em 2009, quando Sully, o experiente piloto de avião, ao se ver encrencado com graves problemas na aeronave, a pousa bem no rio Hudson, um dos cartões postais de Nova Iorque.
Com 155 a bordo, consegue salvar a todos. E o que era um ato heroico vira um julgamento por procedimentos errados. A comissão da aeronáutica avaliou que ele poderia ter manobrado para deixar o avião na pista correta, e não ir ao rio, correndo o risco de matar todo mundo. Aí fica a questão: contar com a experiência de décadas funciona em dias como este? No caso de Sully, sim.
No ‘olhômetro’, calculou o que dava e o que não dava para fazer ali. A racionalidade pulou fora, pois a técnica, bastante válida, óbvio, somou pouco. E Eastwood trabalha isto com perfeição e objetividade. As firulas estão longe das obras do ator-diretor, aliás. Com ‘Sully’, de somente 96 minutos de duração, prova-se. A fita necessita de pouca explicação, sem enrolação. As atuações correm ao lado do comandante.
Tom Hanks, de cabelos, bigodes brancos, está supercorreto no papel. Não é excessivo. Percebe-se a mão de Eastwood atrás das câmeras. Com Aaron Eckhart, o Jeff Skiles (copiloto de Sully), segue na igual toada. A fotografia é estilo Eastwood – cinza, tênue, sem malabarismos. Com este longa-metragem, o diretor ganhador de dois Oscars – ‘Os Imperdoáveis’, de 1992, e ‘Menina de Ouro’, 2004 –dá uma espetada nos ‘bonzinhos’.
Concorre a apenas uma categoria no Oscar-2017: edição de som. Talvez Hanks merecesse também, mas fica difícil avaliar se comparar a atuação dele com outras memoráveis. No fim das contas, ao juntar o bolo todo, ‘Sully’ quer mostrar ao público que determinados tipos de decisões precisam ser tomadas sem o cérebro engenhoso, tenaz e expert, mas sim com a capacidade da experiência. Pode ser que um piloto de 25 anos não tivesse tal julgamento, por exemplo. Vai saber... Mas Clint Eastwood continua no topo. Impressionante.