De novo Petra (publicado originalmente em 3/12/2016)
Semana passada escrevi sobre ‘Elena’, primeiro trabalho em longa-metragem de Petra Costa, essa tal cineasta que descobri somente mês passado e me tornei fã imediatamente. Ela estreou em 2009, com ‘Olhos de Ressaca’, acerca dos anos de casados de seus avós maternos. Este é um curta-metragem de 20 minutos que retrata o envelhecimento de maneira corajosa e sentimental.
Ano passado, ‘Olmo e a Gaivota’ foi lançado e novamente todos se derreteram por Petra. O que é essa mulher, é a pergunta a se fazer nessas horas. O público se surpreende com a fita por ela misturar ficção com documentário e analisar como a gravidez transforma a vida de uma mulher de atividade profissional ativa.
Em ‘Olmo e a Gaivota’ temos Olivia e Serge. Casal de atores, ensaiam a peça ‘Gaivota’ de Tchekov. Ela descobre a gravidez justo no momento em que a trupe projeta excursão em Nova Iorque. Como a gravidez é de risco, Olivia precisa ficar em casa. São estes instantes de solidão, angústia, ociosidade que permeiam a produção, dirigida por Petra e Lea Glob.
Serge é insensível às reclamações da companheira, e por meio das câmeras curiosas da trama, vemos o crescimento real da barriga, sem pudores, sem laços de afeto. Então, quando Petra interage com os atores (eles estão interpretando ou agindo normalmente, ou há algum roteiro previamente escrito, tudo até agora é falso?) pedindo a eles para refazer tal cena, o espectador se vê diante da novidade: a gravidez é autêntica, mas e o resto?
Será que Olivia e Serge são um casal? O filme segue. Ela lida com bruscas alterações do corpo e do cotidiano. A atriz tinha a vida intensa até surgir o bebê e se adaptar ao novo ritmo é complicado. O marido se afasta por alguns dias (é a viagem aos EUA do grupo teatral). Eles têm ríspidas discussões e a calma de Serge deixa a moça cheia de cólera.
Petra e Lea imprimem ao filme teias finas nas quais a plateia se transforma em presa fácil, porque o envolvimento é mútuo. Ficamos íntimos. Convivemos e sabemos exatamente o que pensam. De certa forma, Olivia lembra Elena, a irmã de Petra. É demais. Ficamos sem palavras.