Já faz 20 anos (publicado originalmente em 5/11/2016)
Há exatamente duas décadas, em 30 de agosto de 1996, o Brasil descobria que Chico Anysio não era apenas um ‘reles’ fazedor de tipos, aliás, mais de 200 deles, mas sim também um ator de gabarito, de perspicácia extrema e delicadeza única.
O responsável por mostrar ao país esse Chico Anysio com as feições dramáticas, falando textos sérios, e ao mesmo tempo com resquícios de humor negro fino foi o diretor Carlos Diegues, que o convidou para filmar ‘Tieta do Agreste’, adaptação ás telonas da obra famosa de Jorge Amado.
Anysio ficou com o papel de Zé Esteves, o pai da protagonista, que a expulsa de casa na adolescência, após ela se relacionar com um dos rapazes da cidade. Tieta ajudava o pai a pastorear as cabras e, expulsa do lar, vai à cidade grande e se arranja como cafetina. Anos depois ela retornar a Santana do Agreste rica e poderosa, influente, íntima de deputados, senadores. Ainda sem saber da nova atividade da rebenta (interpretada na fase inicial por Patrícia França e na adulta por Sônia Braga, estupenda aos 46 anos na época), tanto Zé Esteves como a outra filha Perpétua (Marília Pêra) e as demais pessoas do município pobre a tratam como uma sumidade.
No longa, Tieta chega à cidade acompanhada por Leonora (Cláudia Abreu), sua ‘enteada’ – Tieta alega ter ficado viúva dum empresário milionário, que lhe deixou herança farta. A participação de Chico Anysio se dá somente na primeira metade – ele morre de infarto quando Tieta lhe entrega os documentos que dão a ele de novo as posses de suas antigas terras.
O mestre do humor brasileiro deu um autêntico show durante a filmagem. A facilidade de alterar a voz nem foi necessária. Ele estava em seu mundo. Um mundo que desconhecia a sua capacidade de dar vida a personagens de alto teor dramático. Antes de ‘Tieta’, Anysio tinha rodado apenas sete fitas, entre 1955 e 1960.
Eram comédias da chamada ‘Era de Ouro’ do cinema nacional, onde contracenou com Zé Trindade, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Costinha. Em alguns desses trabalhos, escreveu também o roteiro. Num deles, ‘Eu Sou o Tal’ (1959), conheceu a sua primeira esposa, Nancy Wanderley, quatro anos mais velha que ele.