Como fiquei depois do filme (publicado originalmente em 17/9/2016)
A avalanche de espectadores do filme ‘Como Eu Era Antes de Você’ (2016) me fez repensar acerca da importância real de se produzir e realizar o longa-metragem. Todo mundo conhece a história: uma moça desengonçada, mas carismática, consegue emprego para ajudar a cuidar de um deficiente físico bonitão e milionário.
O resto é blá blá blá sem interesse. Mas como se passaram alguns meses desde a estreia, posso identificar e pescar características por trás da obra. Em julho, o jornalista e autor de novelas Aguinaldo Silva fio entrevistado no ‘Roda Viva’ e a certa altura disse: ‘Se um dia pensarem no remake de Tieta, eu mato! São produtos como ... E o Vento Levou, não tem como fazer de novo’.
Na mosca foi a flecha. ‘Como Eu Era Antes de Você’ arrebatou os corações açucarados das menininhas, talvez pelo desfecho lacrimoso ou pela simpatia do casal. Na verdade, o livro de Jojo Moyes foi feito a ser vendido aos borbotões. Aliás, se você deseja fazer sucesso como escritor, perambule pelo caminho dos romances melados e se dará bem.
Ponha pitadas de melancolia, algum fato para o público sentir pena de alguém, a cena tocante e ‘voilá’: eis o acabamento específico pra conquistar cativas fãs. Não se importe com a qualidade. No caso de ‘Como Eu Era...’, Emilia Clarke e Sam Claflin são os rostos de beleza da vez. Ela até é bem talentosa. Imprimiu alegria contagiante à personagem com o sorriso que enche a boca, enfeitado por um par de olhões verdes que vivem intensamente.
Já Claflin faz o que os galãs têm a missão de fazer: olhares pidões, voz gutural arrumada devidamente no computador e os bons ventos das câmeras. E notem como tudo é efêmero: Emilia e Sam são agora o que até há alguns anos eram o casal-Crepúsculo Robert Pattinson e Kristen Stewart, a mulher sem expressão. Muitos anos? Dez, vinte? Não. Apenas 5 ou 6. Como antes tínhamos Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, pelo ‘Titanic’ (97).
Tudo é pó, é nada. Cada macaco em seu galho. Se nos referirmos a Clark Gable e Vivien Leigh, por ‘... E o Vento Levou’ (1939), não podemos mais fazer comparações. Como fiquei depois do filme? Cansado. Cansado de ver tanta coisa ruim.