Imagens de uma vida (publicado originalmente em 30/7/2016)
Stanley Kubrick foi uma das lendas do cinema no século 20. Isto é ponto pacífico e não há discussão. Fez seu nome com atitudes de ermitão. Recluso, não dava entrevistas. Era pouco visto fora de casa, a não ser quando trabalhava. O rosto de semblante fechado contribuía a tal performance. Mais velho, a barba grisalha e mal aparada lhe dava um aspecto de desleixado. Mas seus filmes – todos, 100% - são homenagens à sétima arte, goste ou não você de cinema.
Por isso, e talvez para exibir o seu lado mais caricato e talentoso, em 2001, ano emblemático pela ‘Odisseia no Espaço’ (1968), dois anos após sua morte, aos 71, foi lançado o documentário ‘Stanley Kubrick: Imagens de uma Vida’. É filme-padrão, daqueles em que há somente depoimentos de colegas e amigos misturados com filmagens antigas da família e dos longas da carreira. Os vídeos de sua intimidade revelam o contrário da propaganda: um ser humano normal. Brincava com as filhas e amava sua esposa. Gostava de ficar em casa e fazia isso.
Narrado por Tom Cruise, o protagonista de seu trabalho póstumo, ‘De Olhos Bem Fechados’ (1999 – ele finalizou as filmagens, mas não editou), tem depoimentos de artistas como Jack Nicholson e de Shelley Duvall (ambos falam de ‘O Iluminado’, 1980 – ela penou nas mãos do diretor), Malcolm Mc Dowell (de ‘Laranja Mecânica’, de 1971), e também de admiradores, como os seus colegas de direção Woody Allen, Sidney Pollack, Martin Scorsese e Steven Spielberg.
Este fala sobre ‘A. I.: Inteligência Artificial’ (2001), fita cuja trama S. Kubrick amou, mas não rodou porque quis esperar que os efeitos especiais melhorassem –no fim, Spielberg montou o longa. Vemos Arthur C. Clarke, o autor do livro ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’ revelar como se deu a negociação para a adaptação da obra. Nicole Kidman (‘De Olhos Bem Fechados’) e Matthew Modine (de ‘Nascido para Matar’, 1987) relembram as filmagens e elogiam o modo de Kubrick de dirigir. Um prato cheio a qualquer fanático por cinema. Kubrick foi um cineasta ímpar. Assista novamente a ‘Doutor Fantástico’ (1964) ou a ‘Barry Lyndon’ (75), cuja fotografia creio ser uma das mais lindas de toda a história do cinema, filmada à luz natural.