Marte com batatas (publicado originalmente em 25/6/2016)
Por esses dias, não lembro quando, vi um mercadinho desses de interior vendendo o DVD pirata do filme ‘Perdido em Marte’ (2015) ao lado da promoção do quilo da batata. Bela sacada, claro, a quem assistiu ao filme protagonizado por Matt Damon. A história faz lembrar ‘Gravidade’ (2013), mas com toques de ironia e a pitada de sarcasmo.
Na trama dirigida por Ridley Scott, Damon é Mark Watney, astronauta que é dado como morto ao se perder numa expedição no planeta dos marcianos. Toda sua equipe, chefiada por Melissa (bela Jessica Chastain, de ‘A Hora Mais Escura’, 2012), pega a nave pra voltar à Terra e Watney, surpreendentemente, sobrevive. Assim, a tarefa agora é aprender cotidiano longe de casa. Trata-se, aqui, de mais uma produção de interpretação quase solitária, como temos em ‘Náufrago’ (2000), com Tom Hanks, por exemplo.
Damon carrega a fita nas costas durante quase 2 horas e meia. Não fraqueja. O roteiro de Drew Goddard (de ‘Guerra Mundial Z’, 2013) é que fraqueja quando não pode. Arrasta-se o drama do astronauta e em determinado ponto pegar no sono não será demérito. E quanto às batatas? Sim, Watney usufrui delas, pouco suprimento que sobrou, pra comer. Além de ter de produzir água, temer a morte, ter dúvidas sobre a existência, o personagem de Damon precisa lidar com outro ingrediente pavoroso: a traição a si próprio.
Tal como a Ryan Stone (Sandra Bullock em ‘Gravidade’), Watney desconfia da força e da independência que possui. À medida que os dias passam, ele ‘se acostuma’ com seu novo dia a dia e nasce então o receio de ter de voltar pra casa.
Com o elenco que conta ainda com Chiwetel Ejiofor (de ‘12 Anos de Escravidão’, 2013), Michael Peña (‘Babel’, 2006) e Jeff Daniels (‘Débi & Lóide’, 1994), ‘Perdido em Marte’ é entretenimento puro, com a marca de Scott, veterano cineasta de quase 80 anos dono de clássicos como ‘Thelma & Louise’ (91), ‘Gladiador’ (2000) e ‘Blade Runner: O Caçador de Androides’ (1982).
O diretor gosta de tramas onde o público se sinta afeito ao seu protagonista e simultaneamente o queira mal. Com Watney é assim. Num instante desejamos que retorne logo ao lar. Noutro, que morra pra terminar com o sofrimento.