O Tarantino de sempre (publicado originalmente em 4/6/2016)
‘Os Oito Odiados’ (2015) é, como diz o título, mais um Tarantino de sempre. Não que isso desmereça o diretor. Ao contrário. Ao insistir em fazer praticamente a mesma trilha sonora, ter igual fotografia e no elenco o hoje veterano Samuel L. Jackson, com script um tanto escorregadio, trata-se de outra, ou mais uma, celebração do cinema.
A duração–de três horas e sete minutos–parece querer mostrar que o ex-atendente de locadora de vídeos ama a sétima arte. ‘Vejam: sou capaz de segurar vocês por 3 horas!’, deve sempre pensar Quentin, um dos ainda grandes que jamais segurou a estatueta do Oscar e, se ele for seguir seu cronograma e se aposentar daqui a duas fitas, quando totalizará 10 (‘Kill Bill’ é contado uma vez) pode se igualar a Charles Chaplin e Alfred Hitchcock pelo menos neste quesito.
Se a gente assistir a ‘Os Oito Odiados’ temos lá a mocinha nada mocinha– o retorno de Jennifer Jason Leigh, na pele da prisioneira Daisy, aos palcos do estrelado hollywoodiano (foi até indicada ao Oscar de atriz coadjuvante) – o capanga meio trouxa (S. Jackson como Major Warren) e o xerife ainda mais trouxa (Walton Goggins é Mannix). A turma sempre espera alguma coisa ou alguém. Às vezes nada ocorre e assim os rolos do longa andam.
Tarantino quer sangue? Aqui temos demais, como em todos os seus outros trabalhos. O diretor quer frases afiadas e destemidas? O garçom as oferece ao público a esmo. O cineasta nasceu pra isso. Tem na veia a fixação por ‘achados que pareçam velhos’, se eu me faço entender bem. Será óbvio que se você sentar na sua poltrona e ver ‘Os Oito Odiados’ se lembrará de ‘Bastardos Inglórios’ (2009), ‘Django Livre’ (2012) e ‘Cães de Aluguel’ (1992) fatalmente.
E é por isso que escrevi antes que não é ruim ter este tipo de sensação. Mais do que uma marca registrada, o caso é de uma tatuagem. Em Tarantino está desenhado o espírito do velho faroeste misturado com os vis nazistas, ao mesmo tempo em que comanda jovens arrojados e destemidos.
Está tudo nos filmes dele: fotografia antiga, atuações seguras (Jackson tinha de ter ganhado o Oscar por ‘Django Livre') e uma trilha sonora de respeito, além da direção mão-firme dele próprio.