Um daqueles (publicado originalmente em 16/4/2016)
Filmes sobre o submundo do tráfico de drogas em geral são bem editados, a câmera na mão funciona até certo ponto e o dinamismo se defende como pode. Mas há diferenças. Existem os dos traficantes e os da máfia, dos chefões frios e indeléveis etc. ‘Sicário’ (2015) está no nível de ‘Traffic’ (2000) e de ‘Cidade de Deus’ (2002), guardando as devidas proporções. Refiro-me ao quesito porte de edição e a delicadeza da direção.
É diferente, por exemplo, de ‘Scarface’ (1983), ‘Maria Cheia de Graça’ (2004) e a trilogia de ‘O Poderoso Chefão’ (1972-74-90). Nestes subtemas são abordadas as drogas, porém sob aspectos e coordenações distintos. Na maioria das vezes, são bons trabalhos. E são filmes marcantes.
‘Sicário’ mostra porões da fronteira entre EUA e México. Na crescente briga por poder, a CIA envia a sua principal agente a um plano para derrotar o chefe dum cartel na terra dos sombreiros. A policial, Kate (Emily Blunt – a secretária de Meryl Streep em ‘O Diabo Veste Prada’, 2006), cai em um mundo no qual não está preparada.
A frieza e o relacionamento entre os investigadores, somados à violência das operações (ela também participava de ações fortes, mas não tanto como as que assistiria) deixa-a um pouco balançada. No grupo, estão, por exemplo, Alejandro (Benicio del Toro, sempre brilhante) e Matt (Josh Brolin), os cabeças da turma. Na verdade, o script esconde as intenções primárias da grei em relação à Kate e o público também é manobrado para onde o roteirista estreante Taylor Sheridan (também é ator) quer.
Há uma sequência de tiroteio em uma estrada em congestionamento que vira o caldo da sopa mais saborosa da trama. O elenco todo está entrosado. A direção de Denis Villeneuve age para ser a mais discreta possível. Consegue o intento. A fotografia colabora tanto nas cenas claras como nas escuras. Roger Deakins, o experiente responsável por ela, sabe o que faz e domina a luz de maneira correta. Destaca-se igualmente a trilha sonora.
Não à toa, recebeu três indicações no Oscar 2016. A outra foi de edição de som. Enfim, cá pra nós, ‘Sicário’ é um daqueles típicos de drama alto e cenas de tensão absurda, onde o espectador pode esperar de tudo, inclusive nada. Mas tem coisa boa.