'Spotlight' (publicado originalmente em 20/2/2016)
A vontade fixada em mim logo após ver Spotlight: Segredos Revelados (em cartaz desde 7 de janeiro) foi de querer ler o jornal do dia seguinte. Se você, leitor, me perguntar se o filme é mais um daqueles sobre o Jornalismo em si, mas baseado em fatos reais, eu responderia: sim, porém há algo maior em relação a apelidar a trama desta forma simplória. A verdade está no teor da investigação da turma do Boston Globe acerca de denúncias de pedofilia praticada por padres entre as décadas de 1970 e 1980.
Os reverendos, em meados dos anos 2000, estavam incólumes e eram detentores de altos cargos, uns até no Vaticano. Ao relembrar o caso, citado ‘por cima’ numa coluna, o novo editor-chefe do Globe, Marty Baron (Liev Schreiber), resolve reabri-lo e a isso conta com a trupe de repórteres denominada Spotlight (holofote em português), liderada por Robby (Michael Keaton) e composta por Mike (Mark Ruffalo) e Sacha (Rachel McAdams). Eles vão atrás de vítimas e por meio delas descobrem que o tal novelo é maior do que imaginavam.
Com o auxílio do advogado Garabedian (Stanley Tucci) montam o quebra-cabeça. A verossimilhança do longa de Tom McCarthy está na entrega de Keaton, Rachel e principalmente Ruffalo, que dá ao personagem ares de revolta incontida, somada à adoração pela sua curiosidade extrema. Trata-se de uma produção densa, repleta de diálogos tensos e, portanto, script afiado.
Não à toa, está na lista das principais categorias do Oscar, que acontece na próxima semana. McCarthy, até então um diretor-ator de bobagens como ‘Pixels’ (2015) e ‘Trocando os Pés’ (2015), se mostra um competente comandante. É óbvio que ‘Segredos Revelados’ não se aproxima de ícones do cinema dito ‘jornalístico’, como ‘Todos os Homens do Presidente’ (1976) e o recente ‘Boa Noite e Boa Sorte’ (2005), sem citar o totem ‘Cidadão Kane’ (1941).
Mas, acredito, as tramas feitas sob este lençol raramente fracassam. É um assunto que atrai publicidade porque na maioria das vezes os produtores pegam histórias reais. Quando o elenco contribui, como é o caso de ‘Spotlight’, se torna, ou deveria, pelo menos, se tornar referência aos estudantes de Jornalismo. E a trama se passa entre 2007 e 2013, quando os exemplares do periódico soltam as manchetes avassaladoras. Havia a internet e todos os aparatos possíveis. Talvez seja o primeiro a, se não me engano, levar à telona os jornalistas tendo as facilidades. Mais que isto, a fita aborda a perseverança, a objetividade de se contar uma boa história.