Na palma da mão (publicado originalmente em 13/2/2016)
Dos filmes indicados na principal categoria do Oscar, o mais tocante, emocionante, sublime e com as chances altas de levar o público às lágrimas é ‘O Quarto de Jack’ (a fita estreia no Brasil daqui a cinco dias). De orçamento bem barato, locações mínimas e elenco afiado, a trama dirigida pelo experiente Lenny Abrahamson se impõe pelo bom gosto.
Adaptado do livro de Emma Donoghue (que escreveu o roteiro), a história mostra Jack (Jacob Tremblay), um menino de cinco anos que vive com a mãe, Joy (Brie Larson) num único cômodo de 10 metros quadrados. Leva uma infância aparentemente normal e sadia. A mãe lhe nina a dormir, faz muitas brincadeiras, e instiga a imaginação como pode. Recebe o namorado... Porém existe o inconveniente: a dupla não sai de casa. Antes da metade descobrimos o motivo. Eles estão mantidos em cativeiro pelo ‘velho Nick’ (Sean Bridgers).
Jack jamais viu a luz do sol. Vive a perguntar se as imagens da TV são reais. Distrai-se com uma ‘cobra’ feita de cascas de ovo. Depois de sete anos sob as mais perversas humilhações, Joy se vê no limite físico e psicológico. Arma com a ajuda do filho um plano pra escapar. No mundo real, a adaptação dela é mais difícil que a dele.
Abrahamson domina o elenco e extrai dele o máximo. Brie e Jacob se entregam aos personagens e as atuações de ambos comovem. De forma justa, ela foi indicada a Melhor Atriz. Ele deveria pelo menos ser lembrado a coadjuvante, mas a Academia não o apontou. Errou feio porque, cá pra nós, o menino está a um degrau a mais que a parceira de cena. E não desmereço o trabalho da atriz, que reafirmo, é magnífico.
O script é bem amarrado e isto faz com que a nossa emoção seja bem cuidada. De forma estupenda, a perturbação de Joy é transmitida ao espectador com suavidade. Seu desespero ao se ver livre, com liberdade a fazer o que desejar, e presenciar a felicidade de Jack, transforma-a em figura medrosa e nervosa. O amor incondicional de mãe, como o duma leoa, não é abafado e sentimos todo o carinho, um abraço de Jack, o planeta na palma da mão.
O roteiro, quando de todas as imaginações da garota, nos faz lembrar nossa própria infância, quando a inocência reflete em frases desconexas, mas poéticas num sentido último. Os olhos dele, com comedidas olheiras, marcam pela candura. ‘O Quarto de Jack’ já marcou nome nas grandes produções deste século. Merece de nós muitas palmas.