Cinema brasileiro, uma arte desvalorizada
Quando mencionamos o cinema brasileiro, alguns pensamentos urgentes nos parecem assaltar à mente. A recorrente aversão aos filmes de nosso país levanta questões sobre o quão certeiro somos ao desdenhar nossas próprias produções. Afinal, por quais motivos ainda somos um país de qualidade cinematográfica tão inferior às escolas do cinema mundial?
O Brasil é um país cuja característica cultural mais forte é realmente a própria união de culturas e povos. Uma vez que contamos com essa multiculturalidade, não deveríamos ao menos apresentar trabalhos de razoável poder artístico com maior regularidade?
O Brasil discorre, sim, de filmes importantes e de grande poder crítico com notório talento artístico, mas a sua rara ocorrência parece alimentar esse preconceito que temos com o trabalho realizado em nosso próprio quintal.
É certo, no entanto, que a nossa descontentação diante dos filmes nacionais advém de uma comparação imediata aos filmes de grandes estúdios de cinema, os quais importamos com facilidade absurda. Mas por quê não realizamos obras com qualidade similar? Quais motivos nos levam a ser tão esquecidos em premiações da sétima arte?
Uma das grandes competências do povo brasileiro é reconhecer seu talento, sua capacidade de improvisação e superação aos problemas. Partindo deste ponto, concluímos que há um hiato entre este talento e a chance dele ser transformado em arte. É controverso reconhecermos este nosso talento e alimentarmos um preconceito sobre a nossa capacidade produtiva.
Ao passo que tentamos entender a razão para este cenário, concluímos que a maior razão para esta falta de produtividade está na falta de incentivo. Que chance damos aos nossos atores, diretores e equipe técnica para espelharem seu poder crítico em longas-metragens? Quais são nossas leis de incentivo à arte? Quantos projetos significativos possuímos? Constatamos facilmente a ausência deste apoio em filmes nacionais, quando o patrocínio de várias empresas para arrecadação de fundos à realização da obra se faz presente.
Este problema se agrava, ainda, quando vemos que obras artísticas, de cunho autoral e crítico, vêem-se obrigadas a submeter-se à uma arrecadação que deveria vir do próprio governo. Esse problema se estende à nossa escola de atores, à formação e capacitação cênica mal resolvida em nosso país. Como resultado destas questões, saltam-nos como grandes produções do cinema nacional filmes pertencentes às redes de televisão, e fazem de nossos atores novelescos os grandes astros da nossa arte cinematográfica.
A qual cinema damos ênfase? Nos shoppings, os quais detém as salas mais populares, percebe-se a quantidade de longas estrangeiros em cartaz. Vendemos um produto que não é nosso. Dos filmes nacionais, quando exibidos nos cinemas, não é irônico mencionar a observância de que a televisão parece simplesmente ganhar proporções da tela cinematográfica. O cinema brasileiro está carente, assim como boa parcela do seu público. O avanço só é percebido quando olhamos para trás e enxergamos menor poder artístico, e para isso é necessário iniciativa para mudar a visão e o apoio a esta cultura.
A subversão destes valores é que deve ser percebida, contestada e alterada. O talento e a arte nacional são vivos, e o povo brasileiro necessita de oportunidade para mostrar seu valor em todas as artes. Não compreendido a natureza do problema, continuaremos a conquistar Copas do Mundo, e a falta de títulos cinematográficos continuará mostrando o foco artístico que alimentamos em nosso país.